Dia Nacional de Adotar um Animal reforça a importância do ato responsável
Nunca se falou tanto em adoção de animais de estimação quanto nos últimos meses. Isso não só no Brasil, mas também em países da Europa e nos Estados Unidos. É que, por conta da pandemia da Covid-19, alguns adultos que moram sozinhos buscaram nos pets uma companhia. Outras famílias encontraram nos animais um jeito de entreter as crianças durante o período de isolamento social mais rígido.
Mas, adotar um animal é uma atitude que deve ir além de um momento. E não deve ser visto como caridade. Pelo contrário, é preciso muita responsabilidade. Neste domingo (4), é comemorado o 20º Dia Nacional de Adotar um Animal, criado para enaltecer esse ato de amor, mas também conscientizar contra o abandono. A data faz uma homenagem ainda ao Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais e do meio-ambiente.
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Antes de levar um companheiro de quatro patas para casa, é necessário fazer ponderações. Agir por impulso ou por conveniência de um determinado momento pode, a longo prazo, gerar prejuízos para o tutor e, sobretudo, para o pet. A partir do momento em que coloca as patas dentro de casa, o bichinho passa a ser parte da família. Como tal, precisa ter atendidas necessidades básicas, além das carências emocionais.
O momento de adaptação, inclusive, requer atenção e carinho redobrados. Antes de adotar, ou até comprar um pet, é preciso entender que esse é um compromisso firmado por alguns anos, que envolve custos financeiros e dedicação de tempo. Por isso, é importante observar os prós e os contras dessa nova vida para você antes bater o martelo. E o mais indicado é que todos os membros da família estejam de acordo.
“É fundamental para uma adoção responsável o entendimento das duas partes (doador e adotante) de que estão tratando de um ser com sentimentos e vulnerável”, alerta Luiz Leoni, responsável pelo Brazucas Associação para Lutar pelos Animais (Brala), localizada em Aldeia. As associações, ONGs e protetores independentes que atuam na causa animal são o principal caminho para uma adoção responsável.
Ao impor medidas mais rigorosas antes de liberar uma adoção, os protetores tentam diminuir o índice de abandono de animais. Embora seja crime, essa é uma prática ainda recorrente, muito por conta da impunidade. E, assim como o índice de adoções, o de abandono também é crescente. Para tentar minimizar esse risco, o Abrigo Seu Alberto, que fica no Jaboatão dos Guararapes, aumentou a rigidez nas entrevistas pré-adoção. Além disso, oferece instruções para ajudar em uma adaptação mais tranquila.
“Ter um cão é uma responsabilidade de, no mínimo, 10 anos. Então, queremos que quem estiver interessado, que realmente queira um companheiro, depois de um tempo, por exemplo quando voltar ao ‘normal’ após a pandemia, não queira devolvê-lo”, diz a voluntária do Abrigo Seu Alberto, Talita Marin.
Ganhando chance
Entre as adoções mais festejadas pelo Abrigo Seu Alberto nos últimos meses está a de ‘Neguinho’. Além de ser um cão SRD (sem raça definida), ele já é adulto e paraplégico, sequela de um atropelamento ocorrido antes de ser resgatado. Animais adultos, mesmo que tenham pouco mais de um ano, e deficientes são os que mais têm dificuldade para encontrar um lar, por isso a alegria pela oportunidade dada a ele. Após várias publicações sobre Neguinho nas redes sociais do abrigo, ele chamou a atenção da estudante Lissandra dos Santos.
“Quando vi a publicação com a foto dele, fiquei muito sensibilizada. Na verdade, eu vinha de um processo de grande sensibilização, estava enfrentando o luto pela perda do meu cachorro, Zeus, no ano passado, após sete anos comigo”, explica ela, que rebatizou o pet com o nome de Beto em homenagem ao mentor do abrigo, Alberto Bezerra.
Foi também através do Abrigo Seu Alberto que a jornalista Anna Tiago conseguiu realizar o antigo sonho de ter um cãozinho. Capi, de nove meses, foi adotada por ela e pelo namorado, em abril. A decisão por dar esse importante passo durante o auge dos casos de Covid-19 no Recife teve um motivo especial. “Achamos que estar em casa seria o momento ideal, apesar de todos os pesares, porque poderíamos acompanhar o processo de adaptação e tudo o mais que não seria possível se estivéssemos saindo todos os dias”, conta Anna.
Ela começou a pesquisar perfis de ONGs, projetos animais, até que uma amiga veterinária enviou a foto de Capi. “Ela mexeu com a gente. Entramos em contato, tivemos que esperar ela terminar um tratamento para doença do carrapato. Mal dormi na véspera de pegar ela”, recorda a tutora, contando que Capi era a mais ativa entre os filhotes que estavam aguardando adoção, o que a deixou com receio de não dar conta.
“Tinha lido vários relatos tristes de devoluções. A única coisa que passava pela minha cabeça era que, apesar do meu medo e inexperiência, eu jamais iria devolver ela, nem que destruísse a minha casa inteira (risos). No fim das contas, ela que ficou com medo de sair de lá com estranhos”, diz Anna. A quarentena da família ganhou um propósito, Capi acabou se ambientando de forma até mais tranquila do que eles esperavam e até ganhou perfil em rede social.
SRD
Popularmente chamados de vira-latas, os animais sem raça definida não seguem um padrão. Podem ter cores, tamanhos e características diferentes. Para os amantes dos SRD, isso faz deles seres únicos. Mas a verdade é que são as principais vítimas de abandono e maus-tratos. Nos últimos anos, campanhas em prol da adoção têm ajudado a melhorar um pouco esse cenário.
De acordo com o Radar Pet 2020, da Comissão de Animais de Companhia do Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Saúde Animal), 37 mil lares brasileiros possuem um pet. Segundo o censo, o Brasil tem a segunda maior população pet do mundo, com mais de 84 milhões, sendo 54 milhões de cachorros e quase 30 milhões de gatos. Perde só para os Estados Unidos, com 135 milhões. Entre os cães, 42% são vira-latas, enquanto o percentual entre os gatos sobe para 65% são sem raça definida.
Solidariedade
O Abrigo Seu Alberto e a Brala, citados acima, e muitas outras instituições e projetos voltados para ajudar os animais resgatados em situação de vulnerabilidade, sobrevivem de doações e voluntariado. É possível conhecer e contribuir com os trabalhos através das páginas nas redes sociais: instagram.com/abrigodeseualberto e instagram.com/bralaong.
Dicas para uma Adoção Responsável:
- Antes de adotar um animal, saiba que ele pode viver mais de uma década. O pet vai envelhecer, passar por mudanças e necessitar de cuidados durante toda a vida;
- De preferência, adote animais já castrados;
- Escolha um pet que possua características de comportamento e tamanho condizentes com o espaço e os hábitos da casa;
- Saiba que o pet vai precisar de um tempo para se adaptar à nova vida e que essa fase exige paciência e cuidados;
- Entre os compromissos assumidos está a assistência veterinária regular, incluindo o controle de vacinas e vermifugação;
- Tenha ciência de que será importante ter sempre um tempo para dedicar ao seu pet, com passeios e atividades interativas;
- O animal jamais deverá ser submetido a maus-tratos, nem sob o pretexto de educá-lo;
- Em caso de desistência, nunca abandone o pet. Entre em contato com a instituição onde a adoção foi feita.