Especismo: por que direcionamos compaixão para apenas algumas espécies de animais? 

Questionar o especismo tem levado pessoas a adotarem dietas mais compassivas nos últimos anos

Filhotes de cachorro em um ninho de galinhas - Pexels

Animais domesticados, como cães, são considerados automaticamente sencientes (capazes de ter sentimentos positivos e negativos). A moral humana é direcionada para estes animais quase de forma intuitiva. Já galinhas, por exemplo, são direcionadas majoritariamente para a alimentação, sem preocupação sobre a capacidade emocional do animal. Na evolução humana, diversos fatores desembocaram na forma como tratamos os outros animais. Especismo é o nome dado para esta diferenciação que nos faz ter empatia por uma espécie e por outra, não, por mais que as duas sejam sencientes. 

O termo “especismo” foi cunhado pelo psicólogo inglês Richard D. Ryder, nos anos 1970, e popularizado pelo filósofo australiano Peter Singer em seu livro “Libertação Animal”, publicado em 1975. Trata-se de uma linha de pensamento que investiga e questiona as razões pelas quais a humanidade hierarquiza o valor dos animais com os quais divide o planeta, determinando quais espécies merecem consideração moral — e quais não.

Cães, gatos, galinhas, porcos, vacas e ovelhas sentem da mesma forma. Essa foi a conclusão tirada por um grupo de pesquisadores do Comitê Científico do Instituto Certified Humane no Brasil em 2012. De acordo com a pesquisa, desenvolvida em parceira com a Universidade de São Paulo (USP), todos os mamíferos, répteis, pássaros, anfíbios, peixes e até alguns invertebrados apresentam sentimentos. Isso se dá pelo fato de todos terem uma estrutura de sistema nervoso central igual à dos humanos

Contudo, a comprovação do fato ainda não se popularizou ao ponto de fazer com que esses animais sejam tratados de forma a reduzir a dor ou estresse que a criação pecuária gera. Eles ainda são tratados como se não sentissem dor ou angústia. 

Dezenas de galinhas são confinadas em gaiolas minúsculas por toda sua breve vida, porcas ainda são colocadas em celas sem sequer a possibilidade de virarem de lado e vacas são emprenhadas anualmente para que o leite seja vendido initerruptamente. 

O avanço da pecuária, inclusive, pode ter impulsionado o distanciamento do consumidor sobre os produtos de origem animal que consome. Ao comprar no supermercado, a pessoa se distancia da morte do animal que gerou aquele alimento. 

“Apesar de não haver nenhuma diferença fundamental em sua capacidade de sentir dor e ter emoções, na prática, sujeitamos os animais da pecuária a um sofrimento muito mais intenso e prolongado. Esses animais — como vacas, porcos e galinhas — são submetidos a práticas que, em muitos países, seriam consideradas cruéis e chocantes se fossem cometidas contra animais de estimação, como serem confinados a vida inteira em ambientes apertados e mutilados sem anestesia”, informou Fernanda Vieira, diretora de bem-estar animal da organização internacional de proteção animal Sinergia Animal.

Segundo ela, quanto mais conhecimento se tem sobre a senciência animal, mais as pessoas acabam se deparando com um paradoxo em seus pratos: “Se alguém se choca só com ideia de matar um cachorro, como essa mesma pessoa pode comer uma espécie comprovadamente igual em complexidade cognitiva e comportamental, como os porcos?”.

Questionar o especismo é uma das razões que tem levado pessoas a adotarem dietas mais compassivas nos últimos anos, rejeitando o consumo de proteína animal ou se importando com a forma como aquele animal foi criado. 

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