Eutanásia em pets: saiba opiniões de veterinários e tutores sobre a prática, que é legalizada no Brasil

O tema é polêmico e há tutores e veterinários que apoiam ou rejeitam essa opção

Veterinário aplicando anestesia em pet - Pranidchakan Boonrom / Pexels

A morte de um pet é dos momentos mais difíceis para o tutor. Muitas vezes, a partida acontece de forma tranquila, em casa. Mas há situações em que o sofrimento do animal ou sua condição de maior dependência levanta para o responsável a opção de realizar eutanásia.

Apesar deste ser um tema polêmico, com concordâncias e discordâncias tanto no meio veterinário quanto entre tutores, a eutanásia de pets existe e é usada para causar a morte sem dor para o animal.

O Folha Pet preparou um conteúdo explicando como o procedimento é realizado e em que momento a eutanásia é considerada. Relatos de quem já optou por esse fim para seu pet e de quem já rejeitou foram colhidos para que o tema seja abordado em diferentes pontos de vista. Além disso, também foram entrevistados profissionais da veterinária com pontos divergentes sobre a eutanásia de animais.

A eutanásia, quando escolhida, é realizada por um médico veterinário. No procedimento, o animal recebe um acesso venoso e, por ele, é aplicada uma anestesia. Após a anestesia, a injeção letal é feita. O animal não sente dor no procedimento e o tutor pode acompanhar todo o processo até a morte do animal.

Veterinário avaliando saúde de cãoVeterinário avaliando saúde de cão

De acordo com a médica veterinária Annie Tenório, da Vet4All, algumas pessoas acreditam que a morte do animal pode ser decidida de maneira aleatória, mas não funciona assim. A eutanásia só é indicada em casos muito específicos permitidos e orientados por lei.

“Só tem indicação de eutanásia os pacientes que têm doenças terminais, pacientes em que não existe mais condição de vida e animais em risco ambiental, que possuem doenças que podem causar zoonoses”, explicou a veterinária.

Zoonoses são doenças como raiva e leishmaniose, esta última somente em fase que não é possível avançar com o tratamento. “Para pacientes que podem ser fontes de zoonoses, existe a lei que legaliza a eutanásia”, explicou a médica.

Injeção

A decisão pelo procedimento é feita de forma concordante entre o veterinário e o tutor.

“A gente conversa com o tutor, a decisão também tem que partir dele. Geralmente, esse tutor já lutou bastante pela vida do seu animal. Com o prontuário, com os exames, ele avalia tudo ali e decide que realmente não dá mais, não tem como seguir porque dali por diante o pet só vai definhar, definhar e definhar. Se tivermos autorização dele, mediante a assinatura e o termo, levamos o animal para uma salinha, colocamos o acesso e é feito todo o procedimento”, explicou a veterinária.

Para o médico veterinário Elielson Ernesto, o procedimento de eutanásia deve ser realmente orientado apenas em últimos casos. O profissional relata que há tutores que pedem pela eutanásia apenas para “descansar” da tarefa de cuidar do pet.

“O que leva muitas vezes o tutor a pedir que o veterinário faça eutanásia é a gravidade da doença. Muitas vezes, é mais fácil optar pela eutanásia, eles quererem se livrar da obrigação de cuidar, mas o indicado hoje é tentar tratar até onde pode”, explicou Elielson.

Há profissionais da veterinária que não realizam o procedimento. Esses médicos optam pelo tratamento do pet até seus momentos finais, mesmo que apenas atenuando a dor para que o animal passe seus momentos finais com o mínimo de sofrimento possível.

“O profissional pode dizer que estudou para salvar e não para matar o animal. Ele pode afirmar que não é obrigado a realizar o procedimento”, contou Elielson.

Elielson confessou que ele mesmo prefere não realizar o procedimento. “Eu gosto de tentar até onde pode. Se a pessoa tem condições de tratar, de gastar, eu prefiro ir até as últimas”, explicou.

A tomada de decisão
O tutor do pet precisa estar de acordo com a decisão sobre a eutanásia do animal. Sem essa concordância, o procedimento não é feito.

*Nos relatos a seguir, os nomes dos tutores e seus pets foram alterados para resguardo da identidade das fontes.

Para Graça, tutora de Sara, a questão da eutanásia foi posta em 2019. Apesar de saber que o procedimento seria feito de forma indolor para sua cadelinha, Graça não concordou com a eutanásia de Sara e levou a cachorra para ter seus momentos finais em casa, com cuidados paliativos.

“Foi oferecida essa opção, mas não consegui. Acho que tudo na vida tem seu tempo, ela foi embora no tempo dela. Voltei com Sara para casa e ela morreu três dias depois”, relatou.

Para Graça, além de acreditar que Sara deveria morrer no tempo que seu corpo decidisse, outro fator que contou na hora de negar a eutanásia foi não querer que a cadela morresse em um ambiente de clínica. “Ela estava em casa quando morreu, em um lugar que era confortável e cheio de amor por ela”, contou.

Cachorro em atendimento veterinário

A volta de Sara para casa e sua despedida foi acompanhada por uma veterinária.  A cadelinha recebeu anestésico, para não sentir dor, duas vezes ao dia durante os três dias que passou viva em casa após sua tutora ter rejeitado a eutanásia.

Já para Denise, a questão da eutanásia de Kessi foi apresentada em dois momentos. Inicialmente, ela negou o procedimento e levou a cadelinha, que estava morando com outra pessoa da família, para sua casa.

“A gente adotou ela quando eu tinha sete anos, ela era filhotinha. Então a maior parte da minha vida foi com ela, que era um membro da nossa família”, relatou Denise.

Quando foi morar com Denise, a cadelinha já tinha 18 anos. Ela estava surda, cega e sem conseguir controlar urina e fezes, precisando usar fraldas. Além disso, Kessi tinha sido diagnosticada com uma doença degenerativa que afetou seu sistema nervoso. 

“Minha irmã falou para mim que estava considerando a eutanásia e eu discordei. Falei que, para mim, a eutanásia tem que acontecer quando o animal está em sofrimento, e aí a gente opta pela eutanásia para acabar com o sofrimento do animalzinho. E, como eu achava que ela não estava em sofrimento, eu achava que não era o momento”, contou.

Após alguns meses com a cadelinha, Denise precisou lidar mais uma vez com a morte iminente de Kessi.

“Um dia ela simplesmente amanheceu deitada, sem levantar e chorando muito. Ela não levantava pra comer, não levantava pra beber água, nada. E parecia estar sentindo dor, porque ela ficava chorando. Liguei para a veterinária dela e ela me orientou a dar um sedativo. Foram três dias assim e ela não levantou mais. Quando ela não estava sedada, ela só chorava pra comer e beber água”, contou.

Nesse período, Denise não trabalhou e dedicou seu tempo completo para cuidar de Kessi, torcendo e cuidando de sua melhora. Infelizmente, após três dias, a cadelinha não apresentou nenhuma melhora. "Por isso eu acreditava que ela não ia mais levantar, não ia mais voltar ao normal porque ela tinha essa doença degenerativa e porque ela já estava muito velhinha”, explicou a tutora.

O momento de tomar a decisão pela eutanásia de Kessi foi muito doloroso para Denise, que contou com apoio de amigos e familiares na tomada de decisão.

“A gente não dormiu, ficamos esperando amanhecer para entrar em contato com a veterinária que já acompanhava ela… A médica foi aplicar a injeção pela tarde. Quem estava lá nessa hora era minha irmã, uma amiga que foi para ajudar e o meu melhor amigo, para me dar uma força.  Mas, na hora que ela foi aplicar mesmo a injeção, eu não consegui ver, eu passei mal, meu amigo me segurou e me tirou da sala. Então eu meio que não vi direito ela morrer. Minha irmã foi que esteve com ela nesse momento”, relatou. 

Denise explicou que passou por muito tempo ainda se questionando se sua decisão foi correta, mas que hoje, nove anos após a eutanásia de Kessi, que foi feita em 2014, ela percebe que agiu pelo bem-estar da cadelinha.

“Eu gostaria muito que ela tivesse morrido de causas naturais e sem sofrimento, mas a gente sabe que isso é muito difícil. Com certeza é um ato de amor escolher a eutanásia ao invés de ver o seu bichinho sofrer. Fiquei muito mal depois, porque eu fiquei pensando ‘e se ela ficasse boa e eu matei ela?’. Mas hoje eu sei que ela não ia ficar boa”, contou Denise. 

O luto
Independente de qual decisão seja tomada, a perda do pet é um processo doloroso para o tutor e algumas orientações podem ajudar na superação do luto. De acordo com Simône Lira, psicóloga especialista em luto do Morada da Paz Pet, se permitir sentir a tristeza e falar a respeito da dor é importante. 

"Poder se despedir de seu animal e realizar as cerimônias que julgar necessárias ajuda o tutor a lidar com a perda de um pet querido. A realização de velório e/ou homenagens que façam sentido para a família enlutada é uma opção que proporciona um espaço de acolhimento e respeito à dor que cada um está sentindo diante da partida do animal. Poder falar sobre suas dores em um espaço seguro e partilhar sobre o seu processo de luto em grupos especializados também podem ser uma alternativa para lidar com a necessidade de adaptação a esse mundo novo que se apresenta, agora sem a presença física de seu animal", explicou a psicóloga. 

Para onde vai o corpo do animal? O que é feito?

Patas de um animalPatas de um pet

Existem vários tipos de funerais para pets, a clínica onde é feito o procedimento costuma apresentar as opções do local para o tutor. Confira algumas opções: 

Crematório
Atualmente, o crematório tem sido uma prática muito indicada. Nesse caso, após o procedimento, as cinzas são entregues ao tutor para que ele jogue-as em um local que represente sua ligação com seu pet. Em Pernambuco, o Morada da Paz Pet realiza tanto o funeral do pet quanto o procedimento de cremação. 

Enterro
Pioneiro em Pernambuco, o único espaço destinado ao enterro de animais domésticos é o Cemitério Bosque da Saudade, que pertence ao Kennel Club de Pernambuco, em Jardim Paulista, no Grande Recife. 

É importante ressaltar que não é permitido enterrar o animal por conta própria, pois a prática pode contaminar o subsolo. 

Destinação pública
Em clínicas ou em casa, geralmente o corpo do pet é destinado para remoção por órgãos públicos. No Recife, essa remoção é feita pela Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb), e o tutor pode solicitar essa remoção pelo Conecta Recife ou ligando para o número 156.

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