Mutação genética torna labradores mais propensos à obesidade, diz pesquisa
Os cães com essa mutação sentem fome em intervalos menores de tempo
Um em cada quatro cães da raça labrador enfrenta uma condição genética que os faz sentir mais fome que o comum e queimar menos calorias. A informação é conclusão de uma pesquisa realizada pela Universidade de Cambridge, publicada neste mês de março.
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"Labradores com essa mutação genética estão em busca de comida o tempo todo, tentando aumentar sua ingestão energética. É muito difícil manter esses cães magros, mas isso pode ser feito", informou a dra. Eleanor Raffan, pesquisadora do Departamento de Fisiologia, Desenvolvimento e Neurociência da Universidade de Cambridge, que liderou o estudo.
A mutação se apresenta em um gene chamado POMC, que desempenha papel na sensação de fome e no gasto de energia.
Cerca de 25% dos labradores apresentam a mutação, assim como 66% dos cães da raça Flat-Coated Retrivier, que quase sofreu extinção e hoje se encontra quase que unicamente em seu país de origem, o Reino Unido.
Os cães com essa mutação não precisam comer mais para saciar a fome, porém sentem fome em intervalos menores de tempo.
Além do agravante do pet sentir muita fome, essa mutação faz com que o animal gaste pelo menos 25% menos energia em repouso, o que significa que seu corpo não precisaria consumir as mesmas calorias que um cão de gene comum para a manutenção do seu corpo.
A POMC altera uma via do cérebro canino associada à regulação do peso corporal e desencadeia um sinal que diz ao corpo do pet para aumentar a ingestão de comida e conservar energia.
"Todos os proprietários de labradores e retrievers de pelo plano precisam observar o que estão alimentando esses cães altamente motivados por comida, para mantê-los com um peso saudável. Mas os cães com esta mutação genética enfrentam um duplo golpe: não só querem comer mais, como também precisam de menos calorias porque não as queimam tão rapidamente", orientou a pesquisadora.
Para o estudo, foram usados 87 cães labradores adultos, todos com peso saudável ou moderadamente acima do peso.
Primeiro, os cães recebiam uma porção de ração a cada 20 minutos até decidirem não comer mais. Todos comiam em abundância de comida, mas os cães com a mutação POMC não comiam mais do que aqueles sem ela. Isso mostrou que todos se sentem saciados com uma quantidade semelhante de alimento.
Em seguida, em um dia diferente, os cães foram alimentados com uma quantidade padrão para o desjejum. Exatamente três horas depois, foi-lhes oferecida uma salsicha em uma caixa e seu comportamento foi registrado. A caixa era de plástico transparente com tampa perfurada, para os cachorros poderem ver e cheirar a linguiça, mas não pudessem comê-la.
Os pesquisadores descobriram que os cães com a mutação POMC se esforçaram significativamente mais para tirar a salsicha da caixa do que os cães sem ela, indicando maior fome.
Em outra análise, os cães foram autorizados a dormir em uma câmara especial que media os gases que expiravam. Nesta etapa, o estudo identificou que cães com a mutação POMC queimam cerca de 25% menos calorias do que cães sem ela.
O gene POMC e a via cerebral que ele afeta são semelhantes em cães e humanos. As novas descobertas são consistentes com relatos de fome extrema em humanos com mutações POMC , que tendem a tornar-se obesos em idade precoce e, como resultado, desenvolvem uma série de problemas clínicos.