Parque Dois Irmãos: desmistificando o manejo de animais no Zoológico de Pernambuco
Nenhuma espécie que vive no Parque Dois Irmãos tem condições de adaptação à natureza
A ideia de ir ao Zoológico para conhecer os animais sofreu diversas alterações nos últimos anos. No decorrer do percurso, a prática deixou de ser apenas uma opção de lazer para ter uma característica educativa de conscientização. No Parque Dois Irmãos, no Recife, diferentemente do que muita gente pensa, os animais não são comprados, sequestrados ou substituídos de acordo com o que interessa para o lazer e vontade do público. Todos que vivem sob cuidado de humanos no parque são animais que não se adaptariam na natureza, com grande risco de perder a vida.
"Nenhum dos indivíduos que estão aqui nesse zoológico são passíveis de viverem na natureza. Porque junto com o trabalho do zoológico a gente tem um trabalho de recuperação de espécies que foram vítimas de tráfico e violência. Essas espécies são recuperadas, são tratadas e algumas delas que não vêm a óbito - porque muitas delas, inclusive vêm a óbito -, não podem voltar para natureza, então elas ficam aqui", informou o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti.
Muitos visitantes ainda enxergam o local como ambiente de lazer e buscam por animais não nativos. Contudo, essa é uma questão que está sendo revisada pela gestão. O Plano de Manejo do zoológico foi redirecionado para que ele tenha espécies com maior afinidade com o ambiente local. Por isso, as espécies nativas da Caatinga, Mata Atlântica e algumas do Cerrado são prioridade para locação no ambiente do Parque Dois Irmãos.
No ano passado, por exemplo, a ursa que vivia no Parque foi transferida para um santuário em São Paulo, na Serra da Cantareira. A mudança foi feita para possibilitar um local aclimatado e próximo da realidade do habitat natural da espécie.
A logística para transferir a ursa para o santuário envolveu uma carreta específica com refrigeração, espaço para movimentação, uma equipe de técnicos e comboio da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
Nem todos os animais que vivem no Zoológico podem ser movidos dessa forma, um exemplo é o Chipanzé Sena. "Ele tem 68 anos de idade e, para ele, existe um plano diferente, pois ele é muito idoso. Ele já está vivendo aqui há muito mais tempo do que ele vivia na natureza, a casa dele é aqui", informou o secretário Bertotti. Esse também era o caso do Leão e ainda é o caso do Hipopótamo.
Bonito por fora
A ideia de que os animais que vivem no Parque Dois Irmãos estão sendo “maltratados” ou “sequestrados” da natureza surge, de um modo geral, ao serem observadas espécies bem cuidadas e esteticamente saudáveis. Contudo, para que seja feita justiça, o local pode ser comparado de melhor forma a uma casa de repouso.
Animais que foram atropelados, que tomaram choque e que foram recuperados de cativeiros, por exemplo, estão no Zoológico saudáveis atualmente. “Tínhamos aqui uma ave, por exemplo, que tinha vários chumbinhos no corpo. Esse animal já não voava, mas, então, as pessoas viam esse animal que estava bonito por fora e não sabiam o seu histórico”, informou a coordenadora da Divisão de Veterinária e Biologia do Parque Dois Irmãos, Fernanda Justino.
Um dos projetos do Parque é a reprodução de espécies que não podem voltar para a natureza. Os filhotes, tratados pela equipe multidisciplinar do Zoológico, podem ser integrados na natureza, para a preservação da espécie em seu habitat natural. É o caso do filhote de Macaco Guariba, que nasceu no mês de fevereiro. Seus pais não possuem condições de voltar para a natureza, mas ele ainda tem sua chance de ser inserido nela.
Ambientação
Para a bióloga Fernanda Justino, além de desmistificar a ideia de que os animais são comprados ou sequestrados da natureza, é importante explicar a aparência do Zoológico. “Muitas pessoas chegam no Parque, olham os ambientes de algumas espécies, e reclamam que está muito feio pela quantidade de galhos, folhas ou pedras. Mas a ideia é ambientar o animal em um local o mais parecido possível com o que ele teria na natureza”, informou.
A qualidade de vida do animal melhora com a presença de objetos que fazem parte de seu habitat na natureza.
O compromisso do Parque Dois Irmãos na conservação das espécies e educação da população proporciona ao visitante conhecer o ecossistema e aprender sobre cada animal presente no local. Com o animal confortável, em um ambiente que imita seu habitat, a visita se torna possível.