Pessoas alérgicas podem conviver com pets? A resposta é sim
Quem sofre com alguma patologia no trato respiratório e sonha ter um animal de estimação vez ou outra esbarra na velha máxima de que colocar um pet em casa pode piorar o quadro de saúde. Mas a verdade é que essa convivência não só é possível, como pode ser bem tranquila.
Entendendo a alergia aos animais
Embora a maioria das pessoas ache que ter alergia a um pet significa reação ao contato com os pelos, não é exatamente assim que funciona. A médica alergologista Janaína Mariano explica que a proteína do animal é que é um tipo de alérgeno (substância que desencadeia as reações de defesa do corpo).
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Essa proteína está presente na saliva, na urina, na descamação da pele, que pode criar uma espécie de caspa no pelo, além das penas de aves. Em relação aos animais domésticos, os gatos são os campeões em desencadear processos alérgicos. Isso acontece por conta da composição da saliva deles e da característica marcante de se lamberem constantemente. O hábito faz parte da higiene dos bichanos, mas transfere essas proteínas para os pelos e as espalha mais.
Injustiçados
Embora seja mais fácil e quase imediato relacionar reações alérgicas ao contato com algum animal doméstico, eles podem não ser a origem do problema.
"O que acontece é que também pode ter ácaro na pelagem do animal. E aí a reação não vai ser ao pelo ou à proteína do animal, mas à sujeira presente nele. E esse tipo de sujeira pode estar em qualquer lugar”, alerta Dra. Janaína. Os fungos são outros agentes que merecem atenção.
Manter o animal e o ambiente sempre bem higienizados, sobretudo no caso daqueles pets criados em apartamentos ou com acesso livre ao interior das casas é, portanto, um cuidado precioso.
Nesse sentido, valem não só os banhos, mas também as escovações, que ajudam a eliminar a pelagem morta e a diminuir a quantidade de resíduos que possam ficar acumulados. Isso deve ser feito em ambiente bem arejado.
Prova dos 9
A melhor forma de checar a natureza do processo alérgico é através dos testes de detecção. Existem os testes cutâneos, que podem ser feitos no antebraço ou nas costas, e dosagens através de exames de sangue.
A partir deles, é possível saber se a pessoa tem, de fato, reação aos alérgenos de algum animal ou se a outros fatores, como ácaro, fungos, poeira, entre tantas outras possibilidades. Então, antes de fechar a porta para o sonho de ter um bichinho de estimação, que tal esclarecer essas dúvidas?
Foi a partir de um exame de detecção que a nadadora Etiene Medeiros descobriu que podia ter a companhia de um pet sem maiores problemas. Asmática, ela sempre desejou um bichinho, mas quando criança, por conta das crises constantes, a família evitou essa aproximação.
“Quando adulta, começamos a investigar melhor as minhas alergias e descobrimos que eu poderia ter um cãozinho, mas tinha uma forte alergia a felinos”, conta ela, que então adotou o cão SRD (sem raça definida) Mano Caju.
A convivência em casa, diz ela, é tranquila, sendo a varrição o único cuidado mais específico. “Ele solta bastante pelo, apenas evito que eles se acumulem na casa.”
Assim como Etiene, a influencer Cuca Amorim também tem forte alergia a felinos, mas não apresentou restrições a cães após realizar exames mais detalhados.
“Gato realmente eu não tolero. Até criei quando mais nova, porém é uma alergia muito forte, inviável. Mas com cachorro eu sempre brinquei e nunca tive nada”, diz ela, que é tutora de dois cães, o chihuahua Riquelme e a shih tzu Belinha.
Cuca não tem asma, porém sofre com rinite, sinusite e tem intolerância ácaro, poeira e a uma infinidade de outros alérgenos. Por conta desse histórico, buscou um tratamento especializado de imunoterapia. “Mudou a minha vida, porque não preciso tomar mais antialérgicos na minha rotina. É libertador.”
"Existem alguns estudos que mostram que quando você tem contato com o animal desde muito cedo, você pode desenvolver imunidade. É muito comum crianças”, diz Dra. Janaína. Há frentes que apontam ainda o convívio com bichos de estimação como possíveis estimuladores de defesa do organismo contra outros tipos de alergia.
Entre os sintomas mais clássicos de processos alérgicos estão asma, rinite, espirros, coriza, tosse e coceira nos olhos e na garganta, mas também há desconfortos na pele, por conta do contato.
Casos mais graves podem ocasionar edemas na língua e na glote, por exemplo. "O desenvolvimento da alergia está direcionado à predisposição genética. A gente nasce com a predisposição e o que desencadeia é a exposição”, diz Dra. Janaína.
É por isso que, às vezes, algumas pessoas só descobrem ter alergia depois que o pet já está inserido na família. Foi o caso de Margarida Santos, de 74 anos. Apaixonada por gatos, a professora aposentada tem quatro felinos em casa.
Embora sempre tenha convivido com animais desde nova, ela passou por um grande susto recentemente. “Uma das gatas me mordeu e comecei a me sentir mal. Lavei imediatamente, mas começaram a surgir placas. Fui para uma emergência, mal falava, por conta de um edema na língua. Por pouco não tive edema de glote. Foi bem sério”, relata.
Margarida tem alergia comprovada a gatos. Em casos assim, a recomendação é analisar o nível da intolerância para saber até onde é possível essa convivência e quais os riscos existentes.
Apesar da reação grave, ela optou por administrar essa relação. “Por conta da asma, não tenho tapete e limpo sempre a casa, além de dar banho e escovar eles regularmente. Só recorro ao antialérgico e à pomada com corticoide quando acontece um arranhão”, conta.
“Quando estive ao hospital, o médico disse que, no meu caso, era melhor criar uma naja do que um gato. Mas a gente não pode se afastar de tudo que representa risco. Eu, por exemplo, perderia o amor que eles me dão. O amor de filho supera tudo, mas o animal de estimação é o que mais se aproxima”, completa.