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Resgate animal: um amor que salva vidas

Nicolle e Jéssica deram a Nala a chance de ter uma vida normal, apesar da leishmanionse - Cortesia

O Brasil é um dos países do mundo onde a população de animais domésticos mais cresce nos últimos anos. Durante a pandemia da Covid-19, o mercado pet foi um dos poucos segmentos econômicos que não só conseguiu se manter, como apresentou ascensão. Mas nem tudo são flores.

Da mesma forma que aumenta o volume de cães e gatos inseridos nos lares Brasil afora, infelizmente, também sobe o índice de animais em situação de abandono. São milhares de vidas largadas à própria sorte, sem garantia de alimento, água ou abrigo. 

Como o volume de desamparados é grande, geralmente os resgates são realizados quando a situação do animal já é delicada. É justamente a condição extrema que acaba chamando atenção, seja por magreza excessiva, fraturas nos membros, feridas profundas, acidentes, filhotes largados, entre outras adversidades, e despertando compaixão. 

Foi o que aconteceu com Lau, canino SRD resgatado há pouco mais de um mês pela empresária Mariana Perylo. Um encontro com toque de obra do destino.

A empresária Mariana Perylo resgatou e adotou o cão SRD LauMariana e Lau. Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

“De última hora, eu decidi buscar uma encomenda em Jaboatão (dos Guararapes). Fui com meus pais e, ao chegar no local, estava muito cheio. Decidimos esperar um pouco do lado de fora e foi quando vi Lau. A gente se depara com animais de rua o tempo inteiro, mas nunca tinha visto um naquela situação. Ele estava muito debilitado, tremendo, com as patas em carne viva. Pensei ‘como vou deixar ele nessa situação? Meu pai até falou que eu não tinha o que fazer, mas senti que não podia deixar ele ali”, recorda Mariana.  

Com a ajuda e orientação de alguns amigos, ela socorreu Lau, que ficou internado por 30 dias. “Ele estava desidratado, anêmico e com todos os exames alterados. ;orreria em horas se ficasse onde estava.” De imediato, foi identificada sarna demodécia e doença do carrapato. 

O baque virou missão 
À medida em que Lau apresentava melhora clínica, outros exames eram realizados para fechar o diagnóstico. Foi quando veio a notícia de que Lau tem leishmaniose.
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Por muitos anos, portar essa doença era como ter assinada uma sentença de morte. E, embora a evolução nos tratamentos veterinários hoje permita manter o animal estável, Mariana ouviu muitos conselhos favoráveis à eutanásia. 

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“Decidi, então, conversar com Dra. Andréa (Santana, da clínica Unimev), que já acompanhava a minha cadelinha. Ela me explicou a gravidade da doença, mas também os recursos que poderíamos utilizar. É um tratamento que exige muita disciplina, mas que tem um retorno incrível, que é ver ele bem”, diz a empresária. 

“A partir daí, eu entendi que a vida dele estava nas minhas mãos. Apesar de a adoção de animais estar ganhando mais adeptos, a gente sabe que ainda é difícil, sobretudo em um caso como o dele. Lau virou a minha missão e, graças a Deus, tenho tido uma rede de apoio incrível me incentivando, incluindo Dra. Andréa, que adotou ele como afilhado."

O amor salva
Na grande maioria dos casos, os animais resgatados são aqueles que dificilmente sobreviveriam por muito tempo permanecendo na rua, como é o caso de Lau.

Através do resgate, eles ganham uma chance de lutar para sobreviver, recebendo cuidados, tratamento adequado e carinho. E esse último fator, acredite, faz tanta - ou até mais - diferença que uma medicação. 

Se tem uma coisa que Mariana entendeu na convivência com Lau e que quem já resgatou ou adotou um animal debilitado sabe é que o amor é capaz de salvar.

É o amor, por exemplo, que salva diariamente a vida de Nala, cadela SRD adotada pela jornalista Jéssica Maciel e pela jogadora de basquete Nicolle Chirinda.

Depois de muito refletirem, elas bateram o martelo sobre aumentar a família e descobriram Nala através das redes sociais. A canina era parte de uma ninhada abandonada de filhotes que foram resgatados por uma protetora, em Camaragibe, no Grande Recife. 

Poucas semanas após a chegada da mascote, as tutoras descobriram que Nala é portadora de leishmaniose, mesma doença de Lau. O baque foi inevitável, mas, enquanto outros adotantes devolviam os filhotes da ninhada por terem feito a mesma descoberta, Jéssica e Nicolle escolheram dar a Nala condições de lutar por qualidade de vida. 

Nala com as tutoras. Foto: Cortesia

E que vida. Nala acompanha as tutoras em viagens, trilhas, passeios ao parque e à praia, além de ter um guarda-roupa versátil e uma caixinha de brinquedos recheada. Mas o que faz a diferença mesmo é o amor que ela recebe a cada troca de olhar. "Nala vai pra onde eu e Jéssica formos. Olhar Nala e ver ela alegre é uma das melhores sensações do mundo. Faz um ano que nossa pequena foi adotada e eu sei que o nosso amor salvou a vida dela”, diz Nicolle. 

Azar é não ter um
Quem também escolheu a opção mais “difícil”, oposta ao “senso comum”, foi a tradutora Elizabete Cardeal, de 50 anos. Enquanto muitos ainda viram a cara para os gatos pretos e relacionam esses felinos às mais esdrúxulas teorias, ela deu colo e acolheu Preto, hoje com dois anos. 

Elizabete costuma acompanhar o trabalho de protetores, ONGs e associações que ajudam animais abandonados. Foi assim que conheceu a história do felino.

"Ele tinha sido apedrejado por crianças, com estilingue, em Marcos Freire, apenas por ser preto. Não dava para olhar a foto. A boca estava caída, cheia de tapuru. Ele ficou dias sofrendo até alguém ligar para pedir ajuda para resgate. Quando uma protetora postou o caso, decidi ajudar com doações para o tratamento”, conta Elizabete, que se afeiçoou ao bichano. 

Foto: Cortesia

“Morria de pena e comecei a ter certo apego. Gatos pretos são mais difíceis de serem adotados, sofrem preconceito. Conversei sobre isso com minha esposa e convidei ela para visitar ele na clínica, apesar de já ter outros três gatos adotados morando em um apartamento pequeno.” 

O aconchego das tutoras tem sido essencial para ajudar ele a superar as sequelas e traumas do episódio. “As narinas e a boca dele ficaram prejudicados, atrapalhando a respiração. Tanto aqui ainda não consegui fazer a castração, por causa da anestesia. Isso fora o pavor de humanos. Se ouvir, arregala logo os olhos. Se eu correr brincando com os outros, ele se assusta. Para chegar junto dele, tem que falar bem baixinho”, conta Elizabete, que sintetiza a mistura de sentimentos que tal situação desperta. "É mistura que junta a dor pelo sofrimento do animal e a incredulidade por tantas atrocidades."

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