Sete espécies de primatas da América Latina entre as 25 mais ameaçadas do mundo
O desmatamento e a caça, além das doenças, estão dizimando as populações de primatas na região
Sete espécies de primatas da América Latina, que vivem na Argentina, Brasil, Equador, Peru e uma que se estende do México à Colômbia, estão entre as mais ameaçadas do mundo, segundo uma organização de especialistas internacionais.
O desmatamento e a caça, além das doenças, estão dizimando as populações de primatas na região, alertou um painel de especialistas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que prepara a lista vermelha de primatas em risco.
O titi (ou zogue-zogue) de Alta Floresta, do Brasil, aparece pela primeira vez nesta lista que é atualizada a cada dois anos, informou à AFP a equatoriana Stella de la Torre, organizadora do Congresso da Sociedade Internacional de Primatologia que se reuniu em Quito para fazer um inventário parcial.
Este é "um guia para saber quais espécies priorizar em questões de manejo e pesquisa", acrescentou de la Torre.
Leia Também
• Projeto pode obrigar condomínios a denunciar maus-tratos contra animais no Recife
• Romero Albuquerque critica projeto de Lei que libera caça de animais no Brasil
• Zoológico no Chile começa a vacinar animais contra a Covid-19
Além do titi de Alta Floresta, estão ameaçadas espécies como o titi-de-cabeça-amarela, o macaco-prego-kaapori e o macaco-aranha-de-cabeça-marrom, apontou a professora da Universidade San Francisco de Quito. Completam a lista o macaco-prego equatorial, o bugio-marrom e o macaco-aranha da América Central.
Todas essas variedades fazem parte das 25 mais ameaçadas do mundo, entre as quais também aparecem espécies da África e da Ásia.
Existem 523 espécies no mundo e 171 habitam o continente americano, das quais 42% correm o risco de desaparecer.
O desmatamento é o principal fator que põe em perigo esses animais, disseram os pesquisadores.
"Para cada espécie há ameaças diferentes. Há espécies que sofrem mais com a caça, há outras que sofrem com a fragmentação do habitat, há algumas mais suscetíveis a doenças", explica à AFP Leandro Jerusalinsky, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros.
O "golpe de misericórdia"
No Equador, um dos países mais megadiversos (com os maiores índices de biodiversidade), a situação é "dramática", disse de la Torre, lembrando que as 22 variedades de macacos que habitam seu país estão sob alguma categoria de ameaça, segundo o Livro Vermelho dos mamíferos.
Por exemplo, a fragmentação das florestas condena os primatas a viver em pequenas manchas verdes, o que leva a outro problema: a endogamia e, portanto, a alterações genéticas.
Além disso, a proximidade com as pessoas os expõe a doenças que lhes são letais.
"Como eles são nossos parentes mais próximos, temos muitas semelhanças fisiológicas e uma grande possibilidade de transmissão de doenças entre humanos e primatas", explicou de la Torre.
Febre amarela, malária ou herpes dizimam populações de macacos.
Quando os primatas são forçados a viver juntos em pequenas áreas de floresta, uma doença é como um "golpe de misericórdia". Para uma população pequena é muito difícil se recuperar, porque os macacos têm longos tempos de gestação e infância, o que faz com que se reproduzam lentamente.
A caça, o tráfico de animais vivos para o mercado de animais de estimação e a crença de que o sangue de macaco cura doenças também colocam em risco os primatas das Américas.
O medo de infectar os macacos com Covid-19 parou o trabalho dos cientistas nos últimos dois anos, que foram obrigados a suspender as expedições.
"Isso também teve impacto na conservação porque tivemos que parar de fazer educação básica e trabalho comunitário", disse Leandro Jerusalinsky.