Uso de fogos no período de campanha eleitoral gera preocupação com os pets; entenda os perigos
Época de campanha política é sinônimo de carreatas, eventos, visitas às comunidades, entre outras ações cujo o intuito é atrair o máximo de visibilidade para o candidato em questão. E, convenhamos, poucas coisas chamam tanta atenção quanto uma alvorada de fogos de artifício. Mas será que essa é mesmo a melhor estratégia para avisar que “está na área"?
Em um tempo no qual os pets estão cada vez mais presentes nos lares e a causa animal só cresce em adeptos, inclusive tendo se tornado bandeira de campanha para muitos candidatos, essa não parece ser a ideia mais sensata.
Os animais têm uma audição bem mais sensível do que a do ser humano. Por isso, às vezes você nem ouviu ainda um determinado barulho e ele já está dando algum sinal. Se uma queima de fogos de artifício por vezes incomoda até as pessoas, imagine o quanto não é desconfortável para quem tem os sentidos mais apurados!
A preocupação, porém, é quando a reação vai além do desconforto. As explosões e os efeitos luminosos dos fogos de artifício podem funcionar como gatilhos para crises de ansiedade e estresse. Alguns cães e gatos podem se sentir angustiados ou ameaçados.
As reações são diversas, indo desde miados e latidos mais intensos - tipo de reclamação mesmo -, passando pela tentativa de encontrar um local para se esconder, onde se sintam mais protegidos; até perfurações no tímpano, tremores, convulsões e parada respiratória. Esse risco existe porque o estresse eleva os batimentos cardíacos.
O perigo é maior para os pets com alguma cardiopatia e os idosos, mas isso não significa ausência de risco para os demais. Em novembro de 2019, o caso da cadela da Polícia Rodoviária Federal do Espírito Santo Lua, uma pastora alemã de quatro anos, voltou a colocar o uso dos fogos em evidência.
A cadela foi encontrada sem vida após sofrer uma parada cardíaca desencadeada pelo estresse com os fogos usados durante a comemoração pelo título do Flamengo na Taça Libertadores.
Sem contar que, desorientados, os animais podem ter reações que os coloquem em situações arriscadas. “Têm muitos casos de animais apavorados que saem correndo e sofrem acidente. Já teve animal que se jogou de varanda. O estresse afeta o emocional deles”, diz a médica veterinária Camilly Gonçalves, alertado que raças com o crânio menor, a exemplo de pinscher e doberman, podem se sentir mais incomodados.
Por isso, não são raros os relatos de animais perdidos no Réveillon, por exemplo. A diferença é que a virada do ano é uma situação previsível e, portanto, os tutores costumam se organizar com antecedência para o momento. Mas, na campanha eleitoral, assim como no episódio que vitimou Lua, existe fator imprevisibilidade.
Os próprios seres humanos têm uma reação imediata de susto quando são disparados fogos. A diferença é que o homem logo compreende que aquilo não significa uma ameaça, enquanto os pets não têm esse discernimento. E, embora haja legislações para coibir o uso indiscriminado dos fogos, a fiscalização é falha.
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De acordo com o advogado, professor e presidente da Comissão de Cultura da OAB-PE, André Mussalem, a Legislação do Meio Ambiente do Recife, por exemplo, impõe limites sonoros que, por si só, seriam suficientes para vetar a utilização em excesso dos fogos de artifício.
"A CTTU e os efetivos policiais têm poder para agir de acordo com a lei, controlando o som e também a utilização dos fogos de artifício nas ruas, por exemplo. Mas, culturalmente, não é feito isso. Existe uma certa leniência por parte não só das autoridades imediatas, as que estão nas ruas, mas também nas esferas superiores. É uma lei que acaba não sendo cumprida”, explica ele.
"Hoje é mais eficiente cobrar os candidatos nas redes sociais porque é uma ferramenta que expõe e pode gerar um compromisso maior por parte deles. Quando você provoca publicamente, gera um certo incômodo”, indica Mussalem.
“Os fogos sempre geram um desconforto para quem tem pet em casa, sobretudo aqueles com mais medo. Quando acontece um episódio assim, em campanha eleitoral, gera mais revolta por serem pessoas que querem estar à frente de uma sociedade e que deveriam dar algum exemplo”, reclama a aposentada Ana Maria Gonçalves, tutora do yorkshire Bob, de 13 anos.
O administrador Dilson Neto mora perto da praça de Gaibu, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, e vem sofrendo com os eventos de campanha por causa da cadela Schatzi, uma SRD (sem raça definida) de oito anos.
“Quando começam os fogos, eu observo. Caso seja um episódio isolado, coloco uma música e distraio ela. Mas, se vejo que é uma sequência, tenho que medicar com um calmante (indicado pelo veterinário). Nossa rotina tem sido de tensão toda noite, desde que começou a campanha”, desabafa ele, contando que a praça é um dos pontos principais de eventos.
Dicas
Em um momento de estresse com fogos e outros barulhos estridentes que deixem os pets desconfortáveis, o ideal é o tutor manter o comportamento mais próximo possível do habitual, incluindo o tom de voz. “O agir influencia. Quando mais agitado o tutor estiver, mais o animal vai ficar. Uma opção é levá-lo para um ambiente mais escuro e reservado, colocar um algodão no ouvido e ainda enrolar uma faixa a região do abdômen e do tórax”, diz Camilly.
A faixa deve ser amarrada englobando peito e dorso, formando um oito, finalizado com um nó na região traseira. A pressão imposta por essa “amarração” influencia no sistema nervoso e gera uma sensação de segurança. Entreter o pet com alguma brincadeira que ele goste ou oferecer petiscos é outra estratégia para fazê-lo deixar o barulho em segundo plano e não se estressar.
Empatia
Além dos pets, os fogos de artifício incomodam também bebês, sobretudo os recém-nascidos, idosos, enfermos, pessoas com autismo, pessoas com algum tipo de trauma, entre outros.