Vencedor do Oscar, filme Flow desmistifica preconceito contra gatos pretos
Comumente associados ao azar, os gatos com pelagem preta são preteridos em relação aos felinos com p
Gatinhos pretos nem sempre foram tão amados quanto agora. A sorte, raramente atrelada a eles, chegou carregada pelo filme “Flow”, vencedor do Oscar de Melhor Animação de 2025. Um reflexo do maior carinho por esses felinos, anteriormente rechaçados por conta de preconceitos, pode ser visto nas redes sociais, nas quais ganharam uma nova denominação: “gato tipo flow”.
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aumento no interesse pela adoção desses bichanos foi identificado pela Ampara Animal, organização de proteção animal atuante em todo o Brasil. Cercados de estigmas que vinculavam os gatos de pelagem preta ao azar, eles eram os últimos escolhidos em campanhas de adoção e até primeiros a serem abandonados.
A consultora tributária Amanda Lima vivenciou essa falta de afeto há menos de dois anos ao realizar uma campanha de adoção de para filhotes em situação de vulnerabilidade. “Três gatinhas pretas pariram, cada uma, quatro filhotes”, informou.
No total, eram 12 felinos, dez pretos e dois com traços de siamês. Três foram adotados por meio da campanha, apenas um era preto.
De qual cor?
Anteriormente a essa iniciativa, Amanda já havia realizado outras, em que os filhotes rapidamente chamavam a atenção. No caso dos gatinhos que sofrem preconceito por conta da cor da pelagem, a história foi outra.
“Eu já coloquei outros gatos para adoção e a resposta foi muito mais receptiva. Amarelos, tricolores, rajadinhos… Mas os pretinhos, só duas pessoas quiseram”, relata.
Tutora de dois gatinhos de pelagem preta, a consultora lembra, com revolta, os comentários durante a ação.
“Quantos comentários eu recebi, durante a divulgação dos pretinhos: ‘ah os siameses não estão mais disponíveis? Só queria se fosse essa cor’. A pessoa queria um gato, ou uma roupa nova?”, questiona.
Dos não adotados, um ficou com ela, que recebeu o nome Otávio. Outros foram acolhidos por uma protetora que cuida de vários animais em um sítio.

Esse preconceito que liga gatos pretos à má sorte, que nem tem origem definida, pode ter surgido na Idade Média, a partir de uma lenda de que bruxas assumiam a forma de gatos pretos para vagarem à noite.
Hoje, em pleno século 21, sabemos que bruxas geralmente eram só mulheres perseguidas por motivos que iam desde ser solteira até conversar com as amigas. Então, o que mantém o receio sobre gatos pretos?

Amanda tem uma teoria:
“É ainda aquela velha história mística sobre gatos pretos serem do ‘mal’, misturada com um pouco de racismo também. Como se tudo o que fosse preto lembrasse o mal, o inferno, o azar, a inferioridade.”
Agora, após as repercussões do filme, a consultora acredita que os animais anteriormente rejeitados poderiam ter uma chance.
“Acredito que mais uns dois ou três teriam sido adotados.”
Responsabilidade
Tutora de dois gatinhos pretos, Otávio e Beyoncé, Amanda chamou a atenção para o perigo de adotar um animal sem responsabilidade.

“O filme traz uma visão muito linda sobre os pretinhos. Da mesma forma que ajuda na escolha e aumenta o número de adoções, ainda me preocupa muito as adoções que não são responsáveis. As pessoas costumam fazer as coisas pelo hype. Imagina que, uma criança peça um gatinho preto pelo filme, os pais nem gostam de felinos, mas resolvem agradar, adotam, não se responsabilizam, e o animal sofre maus tratos e é abandonado na rua”, exemplifica.
Para a tutora, é importante salientar que o impacto do filme “Flow” não seja usado como justificativa para uma adoção sem a ponderação do compromisso com um pet.
Não existe desistência após a aquisição de um animalzinho. Abandono, palavra que define o ato de não mais querer um animal e devolvê-lo ou soltá-lo na rua, é crime.