Para falar sobre o futuro, presidente Lula remexe nas histórias do passado
Chefe do Executivo relembra prisão, critica ex-presidente Bolsonaro e traça planos para refinaria
No dia em que anunciou a retomada das obras da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca, prevista para faturar US$ 100 bilhões ao ano quando estiver completamente pronta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prospectou retornar ao município para celebrar a construção de navios do Estaleiro Atlântico Sul.
Defendeu a Petrobras como a empresa mais importante do país e desafiou o presidente Jean Paul Prates a trazer de volta os funcionários demitidos no governo anterior.
Em um discurso de 30 minutos, ressaltou potencialidades do Brasil, registrando que nenhum país vai chegar perto da competitividade na produção de hidrogênio verde. Abriu o pronunciamento, lembrando que a ideia de refinaria teve início no governo de Jarbas Vasconcelos.
A partir daí traçou um histórico que passou por Hugo Chávez. Registrou que o trabalho seria em parceria, mas o ex-presidente da Venezuela não investiu nem um centavo. Citou a Operação Lava Jato, que começou com denúncias de corrupção envolvendo a refinaria. Acusou "juízes mancomunados" de estarem "subordinados aos Estados Unidos".
Maior parte do discurso serviu para reviver o período da prisão e criticar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Afirmou que seus adversários espalharam mentiras até virarem verdades, acreditando que seu destino seria o mesmo de Getúlio Vargas. O ex-presidente se suicidou em agosto de 1954.
"As pessoas que me acusaram estão apodrecendo." Contou que 59 capas de revistas tiveram o propósito de chamá-lo de ladrão. "Mas aprendi com minha mãe que dignidade não se compra em shopping. Ela também me ensinou a não baixar a cabeça. Ou os caras colocam uma cangalha no seu pescoço e você nunca mais se ergue."
Pontuou ainda que sugeriram lhe dar uma tornozeleira e deixá-lo em prisão domiciliar. "Não troco dignidade por liberdade. Não sou pombo-correio nem minha casa é prisão."
O presidente foi aplaudido de pé ao enfatizar que, depois de tudo, acabou presidente pela terceira vez. "Não voltei para fazer o mesmo. Voltei para fazer mais."
Hoje, no segundo dia em Pernambuco, Lula acompanha a troca de comando no Comando Militar do Nordeste e a assinatura de compromisso para a Escola de Sargentos.
Agradecimentos e perspectivas
A governadora Raquel Lyra, ao lado de Lula durante toda a cerimônia, agradeceu a solidariedade do presidente, relatou as parcerias com os ministros Silvio Costa Filho, André de Paula e Luciana Santos e registrou que "ninguém vence a teimosia e a força de trabalho do povo". Como resultado da boa relação com o Governo Federal, prevê que até junho de 2025 seja lançado edital para retomada da Transnordestina.
CONSOLO > O presidente Lula brincou com o prefeito do Recife, João Campos (PSB). Observou que ele estava triste porque a retomada das obras da refinaria vai deixar Ipojuca mais rica. "Mas o povo ganha por aqui e vai gastar na capital."
PROVOCAÇÃO > Para Raquel Lyra, Lula disse não ter questionado sua vitória e respeitado a escolha do povo. A gestora nunca disse em quem votou no 2º turno. "Seria bom que ela governasse na época de Bolsonaro. Pergunte a qualquer governador do Nordeste. Era um capeta."