Climatério e menopausa: precisamos falar sobre isso

Dra. Izabel Christina Haig de Medeiros Carneiro

Menopausa e climatério são duas condições que costumam aparecer com frequência durante as conversas entre as mulheres que estão na metade da quarta década de vida. Antes de detalharmos o tema, peço licença para falarmos primeiramente sobre longevidade, o que nos ajudará a compreender melhor os tópicos que abordaremos sobre o fim da fase reprodutiva. 

A expectativa de vida das mulheres vem aumentando anualmente, sendo hoje, segundo o IBGE, de 80,1 anos em quase todas as partes do mundo, confirmando o fato de que as mulheres vivem mais do que os homens. 

Há três hipóteses que podem justificar essa diferença. A primeira é a genética, pois os cromossomos X contêm muitos genes que ajudam a prolongar a vida. A segunda hipótese são os hormônios. O estrogênio, hormônio sexual feminino, atua como “oxidante” no organismo, ajudando a impedir o envelhecimento das células e facilitando a eliminação do colesterol ruim, podendo oferecer certa proteção contra as doenças do coração. E a terceira hipótese está baseada no incentivo cultural para os homens se comportarem de maneira mais violenta e arriscada, em comparação com as mulheres. Outro fator cultural é que as mulheres entre 16 e 60 anos procuram o médico com mais frequência e fazem seus checkups com maior regularidade do que os homens. 

Devido à pandemia da covid-19, esses exames rotineiros ficaram prejudicados por um período, principalmente para aquelas mulheres que estão no climatério, caracterizado como o período de transição fisiológica da fase reprodutiva para a não reprodutiva, com queda da produção de estrogênio. É um período que começa aos 45 anos e dura, em média, dez anos. É importante lembrar que, para estar na menopausa (a última menstruação), é necessário passar 12 meses sem menstruar. 

Mas, mesmo com as dificuldades, elas continuam procurando os serviços médicos para ajudá-las a combater os sintomas dessa fase, como as ondas de calor (fogacho) e alteração do sono. Em algumas mulheres, ocorrem sintomas psíquicos, como irritabilidade, depressão, perda da memória, mudança de humor, distúrbio da ansiedade e melancolia. Podem também aparecer manifestações urogenitais, como dor e premência para urinar, incontinência urinária, infecções urinárias e ginecológicas, ressecamento vaginal, dor à penetração e alteração da libido. 

É um período em que a pele perde o vigor, os cabelos e as unhas ficam mais finos e quebradiços. Há alteração na distribuição da gordura no corpo. O tecido fibrograndular mamário é substituído por tecido gorduroso que também deposita mais na região abdominal. Existe perda da massa óssea nessa fase, que também favorece a osteopenia e a osteoporose. Hoje o cuidado com a doença coronariana é muito grande. Nessa fase pós-menopausa, trata-se da principal causa de morte. A presença desses sintomas, juntamente com as alterações menstruais e exames laboratoriais de sangue, normalmente fecha o diagnóstico. 

Os exames de imagem, como a mamografia, ultrassonografias endovaginal e mamária, densitometria óssea e papanicolau são feitos rotineiramente e devem ser repetidos anualmente.

Valorizar a alimentação saudável e a atividade física regular, assim como evitar o consumo de álcool, desponta como medidas importantes que podem ajudar a atravessar esse momento. Mas, às vezes, só isso não adianta e é preciso lançar mão da terapia de reposição hormonal, que alivia todos os sintomas do climatério. 

Existem várias opções de terapia de reposição hormonal (TRH), que deve ser individualizada de acordo com o caso, pois compreendemos que cada mulher deve ser tratada de forma única, levando em consideração seu histórico médico, seus sintomas, seus anseios e suas informações prévias. A individualização é capaz de ajudar a melhorar a qualidade de vida, protegendo da osteoporose. E se a TRH for realizada no início dos sintomas, é possível oferecer proteção cardiovascular. 

O médico deve sempre explicar sobre os riscos e os benefícios do tratamento. Dessa maneira, juntos, médico e paciente, decidem qual seria a melhor conduta a ser seguida. A tomada conjunta de decisões é um desafio atual. 

Ainda é importante frisar que sempre é necessário afastarmos as contraindicações da TRH, como histórico de câncer de mama e de endométrio, distúrbio hepático, sangramento vaginal de origem desconhecida e doença cardiovascular instalada. 

Se antigamente o fato de estar na menopausa era um constrangimento para as mulheres, ao falarem sobre essa condição, atualmente muitas delas nem sabem quando entrou nessa fase, pois muitas são as opções terapêuticas que ajudam a vivenciar o climatério com qualidade de vida.   

Recifense, Dra. Izabel Christina Haig de Medeiros Carneiro é casada com Renato José de M. Carneiro, com quem tem dois filhos e quatro netos. Formada em medicina pela atual Universidade de Pernambuco, em 1976, fez residência médica no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Médica concursada pela UFPE, Izabel Christina teve sob o seu comando, por anos, o Ambulatório de Ginecologia Endócrina e Planejamento Familiar. Fez parte da junta médica da UFPE. Foi coordenadora da maternidade do Hospital Santa Joana, também no Recife. Trabalhou no Instituto de Reprodução Humana com o Dr. Weydson Barros Leal. Escreveu capítulos sobre Ginecologia Endócrina em livros nacionais. Atualmente Izabel Christina atua em clínica toco-ginecológica como ginecologista, com um olhar direcionado à parte da endocrinologia ginecológica.

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