Novas gerações entram em cena

Capitulo Grandes Obras: Inspiração Recife

Arquitetura Moderna no Centro do Recife. - Acervo URB/PCR.

Novas gerações entram em cena

A partir das décadas de 1960 e 1970, novas gerações de arquitetos pernambucanos começam a entrar em cena, como Marcos Domingues, autor do projeto da Residência Enário de Castro, com seus espaços livres no centro e escada helicoidal independente. Outro nome de destaque foi Maurício de Castro, um dos pioneiros na utilização de programas informáticos na arquitetura e responsável pelo projeto da sede da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), na Zona Oeste, desenvolvido em parceria com Reginaldo Esteves em 1968. Desenhado em forma de serpente no sentido norte-sul, o prédio apresenta grandes janelas em alumínio e vidro na fachada leste e, a oeste, cortinas de cobogós que facilitam a circulação de ar em todos os ambientes.
Castro desenvolveu também, juntamente com Esteves, o projeto do estádio do Santa Cruz (1967), no bairro do Arruda. Esteves foi responsável por vários outros edifícios emblemáticos na cidade, como o da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe), na Soledade, atualmente Neoenergia, projeto de 1971 em parceria com Vital Pessoa de Melo. O edifício diferencia-se na paisagem pelos planos de vidros com brises de concreto pré-moldado e conta ainda com um amplo jardim projetado por Burle Marx. O trabalho dessa dupla pode ainda ser visto nas estações Coqueiral e Cavaleiro do Metrô do Recife, projetos de 1983.
Outro nome que contribuiu fortemente para o desenvolvimento da arquitetura no Recife foi Wandenkolk Tinoco, responsável pelo projeto da sede da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), em 1978, em parceria com Pedro Montenegro. Este edifício, localizado na Avenida Cruz Cabugá, está organizado em torno de um vazio central e é marcado pela volumetria e pelo acabamento requintado. Wandenkolk também assina o projeto do Edifício Vila Mariana, no bairro do Espinheiro, um ícone dos chamados edifícios-quintais, repletos de verde nas varandas. 
Enquanto a cidade se espalhava a norte e a oeste, a Zona Sul também começava a se consolidar como novo eixo socioeconômico. A implantação do Shopping Recife em 1980, no bairro de Boa Viagem, provocou uma explosão no mercado imobiliário e demandou ainda mais projetos de edifícios residenciais e comerciais dos arquitetos pernambucanos. 
A década de 1980 assinala a consolidação da terceira geração de arquitetos formada na escola do Recife. Entre os nomes dessa fase, podem ser citados Alexandre de Castro e Silva, Jerônimo Cunha Lima e Carlos Fernando Pontual, chamados a contribuir com soluções para um pulsante novo mercado imobiliário. De Castro e Silva, destacam-se edifícios como o Pedra do Mar (1983), em Boa Viagem, e o Edifício Príncipe Vivar, no Espinheiro. Lima e Pontual projetaram obras memoráveis, como a sede da IBM Recife (1971/1972), no Derby; a sede do Tribunal Regional Federal de Pernambuco (1990), no Cais do Apolo; o Imperial Flat Suites (1991); e o Edifício Puerto Banus (1993), em Boa Viagem.

Diálogo com a cidade e com a população
Projetos mais recentes, feitos sob encomenda de clientes privados ou instituições públicas, também têm contribuído para o desenvolvimento da arquitetura local na medida em que dialogam com a cidade e com a sua população. Quem passa pela Ilha Joana Bezerra, por exemplo, não deixa de perceber a grandiosidade do Fórum do Recife (1997), projeto do escritório de Paulo Raposo. O prédio de 43 mil metros quadrados, baseado na arquitetura da Roma Antiga, é marcado por um pátio central circundado por altas colunas.
O Compaz Governador Eduardo Campos (2014-2016), do escritório dos arquitetos Catia Avellar, Glicia Fernandes e Roberto Montezuma, é outro exemplar desse tipo de arquitetura que busca dialogar com o entorno e com os cidadãos. Instalado no Alto 

Centro do Recife passa por nova transformação
Vista para a cidade do Recife.
A capital pernambucana surgiu e se desenvolveu a partir de seus cais banhados pelo Oceano Atlântico e pelos rios Capibaribe e Beberibe. Seu principal ancoradouro, o Porto do Recife, já embarcou muito açúcar e pau-brasil e, no início do século XX, passou por uma grande reforma que mudou a face do Bairro do Recife. A maior transformação, no entanto, é a que está em curso.
A instalação de novos empreendimentos públicos e privados, aproximadamente 100 anos após as reformas de ampliação do porto, vem dotando o centro do Recife com uma sofisticada infraestrutura. Assim como ocorreu em outras zonas portuárias, como a Estação das Docas, em Belém (PA), e o Puerto Madero, em Buenos Aires, Argentina, a ideia é requalificar áreas nobres para oferecer a moradores e visitantes novas opções de cultura, turismo, lazer, comércio e serviços.
Por meio dos projetos Porto Novo, iniciativa do Governo do Estado, e do Porto Novo Recife, que é a parte privada, estão sendo requalificados e devolvidos à cidade espaços antes ocupados por operações portuárias, preservando parte da memória. Cada empreendimento inaugurado representa um novo sopro de vida para o antigo bairro e todo o seu entorno, ajudando a consolidar um novo polo que se desenvolve totalmente integrado ao pulsante ecossistema de economia criativa, tecnologia e inovação já existente na região — o Porto Digital.
Os projetos envolvem ao todo a reforma de dez antigos armazéns, compreendendo um trecho com cerca de 1,5 quilômetro de extensão entre o Bairro do Recife e o Cais de Santa Rita. O Porto Novo, iniciativa do poder público, teve seus primeiros empreendimentos entregues em 2012 e 2013 — o Centro de Artesanato de Pernambuco, que fica ao lado do Marco Zero, e o Terminal Marítimo de Passageiros, um dos mais modernos do mundo.
Terminal Marítimo.
Outro empreendimento que integra o Porto Novo é o Cais do Sertão, considerado um dos mais arrojados projetos arquitetônicos do país. Seu vão livre, com 56 metros de extensão e seis metros de pé direito, é comparável ao famoso vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), que tem cerca de 70 metros. Em um dos módulos, a fachada é composta por 2.100 cobogós gigantes em concreto branco, simulando as galhadas do Sertão, que resulta em um incrível efeito estético para quem se aproxima da edificação. 

Porto Novo Recife: um novo marco para a cidade
Paralelamente à entrega desses grandes empreendimentos pelo poder público, a iniciativa privada também vem desempenhando um importante papel no processo de revitalização das antigas instalações portuárias. As intervenções reunidas no projeto Porto Novo Recife têm provocado um forte impacto urbano e econômico, com infraestrutura de ponta, e passam a formar um enorme complexo multiúso voltado para o turismo, a cultura, o lazer e os negócios.
Ao lado do Marco Zero, os armazéns do porto comportam lojas, escritórios, bares e restaurantes. Além da nova vocação econômica, o conjunto ainda representa um convite à contemplação, pois, a partir de suas varandas e paredes de vidro, é possível visualizar o mar, o porto, o Parque das Esculturas Francisco Brennand do outro lado do rio e parte do casario do centro histórico.
Detalhe da Construção do Novotel Marina.
Enquanto isso, o Armazém 14, onde anteriormente funcionava um teatro, foi climatizado e funciona como espaço cultural apto a receber apresentações de teatro, dança e shows, além de eventos sociais e corporativos. Já ao lado do Terminal Marítimo de Passageiros, outro armazém foi igualmente reformado e recebeu lojas e módulos para escritórios de empresas embarcadas no Porto Digital.
Detalhe da construção do Novotel Marina
Cruzando a Ponte 12 de Setembro, conhecida como antiga Ponte Giratória, chega-se ao Cais de Santa Rita, referência na chegada e saída de pequenas embarcações desde pelo menos o século XVII e até meados da década de 1970. O local também está sendo palco de grandes obras de requalificação e reurbanização do projeto Porto Novo Recife, com a implantação de um hotel de luxo, uma marina de classe internacional e um moderníssimo centro de convenções.
Todos esses novos espaços já estão se incorporando à paisagem do centro da cidade, sendo apropriados pela população e fascinando ainda mais os visitantes. Assim, a cada nova intervenção urbanística, o Recife vai se reinventando e provando que é capaz de olhar para trás e, ao mesmo tempo, mirar o futuro.
 

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