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30 Anos de Sustentabilidade Monetária (1)

A Política Econômica e o Apagão de uma Memória Inflacionária Resiliente

Alfredo Bertini - Jose Britto/Arquivo Folha

Início a série de textos sobre os 30 anos do Plano Real, já ancorado na decisão da última quarta-feira, quando o COPOM estabeleceu um freio no processo de queda gradual da taxa SELIC, que baliza os juros das operações financeiras. Por unanimidade dos integrantes daquele comitê, a taxa básica foi mantida em 10,5%. Claro que ainda elevada, para efeito do que se deseja em termos de estabilidade macroeconômica. Porém,  tolerável por uma compreensão técnica de controle monetário, acima das aspirações políticas, que almejavam a manutenção daquele ritmo de queda.

De fato, o sintoma de desconfiança que influiu sobre as expectativas recentes do mercado, não poderia se mais oportuno, para aqueles que têm em mente a importância de se comemorar os 30 anos de implantação exitosa do Plano Real. Ou seja, por sustentar um esforço monetário durante três décadas, a economia brasileira conseguiu um feito, na forma de um apagão na memória inflacionária, que por muito resistiu no seio da sociedade. 

De fato, os momentos de riscos ou ameaças à necessária estabilização da moeda, até que existiram no decorrer de todo esse tempo. Contudo, as saídas técnicas e/ou políticas evitaram que o fantasma da inflação ressurgisse na cena econômica nacional. E tal assombro foi lembrado por esses dias, muito embora a independência do Banco Central tenha emitido um sinal de arrefecimento sobre as expectativas contrárias, até então, em flagrante processo de contaminação.

Penso que o importante é que essa lembrança dos 30 anos de sucesso do Real, fortaleça uma espécie de compromisso geral da sociedade com a ideia definitiva de se sacralizar nossa moeda. E que todos os agentes socisis possam fazê-la ser entendida como uma referência da própria identidade nacional. A propósito desse ponto de vista, justo no livro "30 Anos do Real", escrito por três do grupo de economistas que esteve à frente da execução do Plano (Gustavo Franco, Pedro Malan e Edmar Bacha), destaco aqui uma escrita inicial de Franco, onde ele diz o seguinte: "não existe nada mais social, plural, coletivo e nacional que a moeda". Apesar de tamanha contundência verbal, ele ainda arrematou: "a moeda é como um pedaço de cada um de nós, uma materialização ou representação de uma nação". O que dizer mais, diante dessa minha discreta postura cidadã, de que o reforço dessa tese está no compreender a moeda como um patrimônio nacional, com todas virtudes cabíveis ao posto?

Bem, quem conheceu de perto a corrosão e a finitude de uma moeda, porque os preços praticados na economia não param de subir, sabe bem a extensão do que seja preservá-la. Bem sabe também o peso cruel desse modo anômalo de imposto, em particular, para as classes de renda da base da pirâmide. São esses os mais implacáveis caracteres, que fazem do "fantasma" da inflação um "monstro" assustador. Algo que ninguém mais gostaria de reencontrar ou reviver.

Mais do que mal entender a fluidez das expectativas que fazem parte do cotidiano dos mercados, seja aqui ou noutro canto do mundo, garantir o apagão da memória inflacionária é hoje algo que está na vida cotidiana do cidadão. Uma conquista da sociedade que foi resultante de um plano de sucesso, que merece ser lembrado e comemorado, pelos seus 30 anos de resistência. 

Minha intenção, nas próximas colunas é trazer essa conquista para reforçar a justiça dessa evidência. Afinal, sou um dos que acredita no fato de ser o Plano Real o maior e melhor exemplo de política pública estruturante e disciplinada, desde que o Brasil se posicionou de modo republicano e democrático.

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