A agenda política e econômica de 2002: Quais as lições da experiência?
O pacto político em defesa da estabilidade econômica
A principal essência da responsabilidade, talvez seja a condição que se exerce no poder de discernir, enquanto uma atitude racional. Nessa mesma linha de pensar, tinha razão o mestre Saramago, quando defendeu que o compromisso com a responsabilidade deve estar em "contar com os nossos olhos, quando os outros já os perderam".
Guiado por tamanha inspiração literária, meu compromisso agora será analisar com responsabilidade os momentos vivenciados pela política e a economia há duas décadas, justo no período do embate eleitoral de 2002. Razões para isso estão ai colocadas, nas cenas atuais da política e da economia. Afinal, em comum o protagonismo das candidaturas de Lula, apesar do lastro de tempo das duas décadas que separam os fatos. De alguma maneira, uma busca capaz de nos mostrar o ambiente político e econômico que deu consistência às eleições de 2002, talvez nos reserve algumas similitudes.
O quadro analítico vai além do simples fato do protagonismo do candidato Lula, como já insinuei antes. Parece-me interessante para o objeto que me proponho verificar as minúcias que embalaram as decisões de 2002 e que têm chances de serem repetidas agora. No entanto, à luz da experiência, são cabíveis os indicativos dos erros e acertos consagrados naquela oportunidade. Não que isso seja deterministico para algo, pois sequer se tem hoje qualquer segurança no sentido de saber se o protagonismo só visto pelas lentes das pesquisas seja algo que se confirme. Mais do que cedo para precipitar até mesmo palpites, o que vale mesmo é perceber os nuances das duas conjunturas, separadas por duas décadas de muitos eventos políticos e econômicos.
Antecipo meu roteiro para as duas próximas colunas. Na da quarta-feira entro no mérito em si daquele ambiente eleitoral de 2002 e dele projeto todos os desdobramentos da política e da economia, que fizeram o país chegar em 2022 com tantos pontos comuns, embora embalados por um maniqueísmo acirrado e até violento. Na coluna da sexta esboçarei as sintonias de contexto e as conclusões possíveis, com os olhos fixos em 2022/23, embora sem ter perdido a das lições deixadas por 2002.
Muito além dos fatos que vivenciei como cidadão, analista e - de certo modo - partícipe, é deveras importante contar com uma retaguarda, guiada por ações e textos levados a cabo por quem teve a experiência para avaliar. Nesse sentido, recuperei leituras antigas que julguei importantes. Basicamente, destaco aqui as análises que reuni de dois grandes economistas: Rogério Werneck e Pedro Malan. Os detalhes inerentes às minhas opções ficarão para quarta-feira.