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A conjuntura econômica precisou resgatar a autoridade monetária

A alta dos juros e a importância do controle inflacionário

Há quase 19 anos, no longínquo mês de dezembro de 2002, o então comitê de política monetária havia aumentado em 3 pontos percentuais a taxa de juros básica. De lá para cá, o maior sobressalto se deu na última reunião, quando acima das expectativas do mercado, foi efetivado um acréscimo de 1,5 ponto percentual. Por si só, essa é uma situação que já expressa preocupações com os cenários econômicos.

De fato, tal contexto também cabe num outro nível de observação do problema. Esse mesmo aumento representou um patamar de reversão de tendência, cujo impacto não se via desde 2017. Ou seja, quando ali se atingiu uma mesma taxa estipulada de 7,75%, isso se deu em ritmo de queda, pois a taxa anterior havia marcado 8,25%. Agora, numa situação inversa, a taxa foi para o mesmo nível de 2017, após estar em 6,25%. Mais um reforço para tantas incertezas que pairam no ar. Por que tudo isso? Qual a razão dessa dura reação do Banco Central? Quais serão os próximos passos da política monetária?

Antes, vale aqui uma breve explicação conceitual. É que o principal instrumento do Banco Central para cobtrolar a alta de preços é a taxa básica de juros, que é estipulada com base no sistema de metas de inflação. Assim, quando a inflação está alta, a taxa de juros é aumentada. E ela é reduzida quando a inflação está alinhada com as metas. Por essas e outras, agora como órgão independente do Governo, faz jus ao papel que se convencionou chamar de "autoridade monetária". Cabe, então, ao Banco Central, a missão de ser o real guardião da moeda.

Dito isso, vale explicar o porquê desse resgate de autoridade monetária, que, de modo tão firme, trouxe-me à lembrança aquela prática monetária de 2002. Nesse sentido, os velhos sinais de instabilidade nas alçadas fiscal e cambial são os fatores motivantes. Só que agora conta ainda com um tempero político nada saboroso e bem apimentado. Um ambiente que promete mais ações rigorosas do Banco Central, o que só aumenta o grau de preocupação com o futuro.

A política econômica dá razões de sobra. Não obstante a consideração por um ministro com tanta capacidade de adaptação para reveses, que desmente e trai suas palavras e convicções, assiste-se ao país se curvar ao populismo escrachado. Distante de um planejamento social prévio, a receita de um desastre está, neste momento, em flexibilizar o acesso a mais de R$ 90 bilhões acima do teto. Sob o pretexto de suavizar o caos social iminente, aposta-se no vale tudo, mesmo que isso possa até significar romper acordos ou deixar de honrar pagamentos. Exercício de calote explícito.

Cenário? Sinais persistentes de inflação já criam novas expectativas de aumentos, em igual montante, na taxa de juros que advirá da reunião de dezembro do comitê. As projeções para 2022 já apontam hoje para uma faixa de 10% na taxa de juros. Sintomas de estagflação à vista: estagnação econômica (expectativa de 0 a 0,5% de crescimento) com inflação alta.

Tinha razão John Kennedy: não adianta consertar a culpa do passado, sem que se assuma a responsabilidade pelo futuro. Por aqui, a culpa dos desmandos foi sempre dos outros e a olhar para o futuro se perdeu no velho discurso populista. É o Brasil com o jeito e a cara de sempre, que joga para frente seus desafios. Uma incompletude que tem sido cara há muito tempo.

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