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A cultura popular também explica fatos recorrentes da economia

Duas distintas lições extraídas da atual conjuntura econômica

Banco Central - Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Hoje, atrevo-me buscar, numa face da cultura popular, dois ditados bem comuns, para justificar fatos recorrentes que, em muitas e distintas ocasiões, a economia costuma nos aprontar.

Meus fatos econômicos e distintos são bem recentes. O primeiro é de amplo conhecimento geral, porque me motivou a tratar da manutenção da taxa de juros, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. O outro fato, é de conhecimento mais restrito, embora esteja na essência de uma prioridade econômica que se reserva ao Brasil (e ao Nordeste), como é o caso do turismo.

Meu primeiro ditado expressa que "até papagaio, que seja amigo do joão-de-barro, termina como auxiliar de pedreiro". O que quero dizer com isso é, que por melhores que sejam as intenções contrárias, muitas vezes o poder de influência exerce lá suas convicções e seus privilégios. Não adiantaram as argumentações para que o COPOM cedesse minimamente, como reação aos sintomas de melhoria na economia e apelos de parte do empresariado. Nem falo aqui do governo, pelo simples olhar da equipe econômica, que tem exercido uma pressão mais discreta que a retaguarda do time da política. O que prevaleceu foi a "convicção amiga", justo de uma ideologia mais ortodoxa, aparentemente incapaz de ceder para qualquer indício de ameaça fiscalista. Penso que por maior que seja a preocupação com o histórico governamental de propensão a gastar, havia uma certa margem de acomodação, que fosse decisiva para uma queda sutil nos juros (quem sabe, de 0,25%). A vocação "joão-de-barro" do BC, focado tão somente na sua "construção" de política monetária, não deu vez aos diversos "papagaios falantes", mesmo diante daquelas espécies menos eloquentes, que almejavam algum recuo da ortodoxia no pensar do BC.

Por outro lado, numa linha bem particular de observação do fato econômico, reporto-me ao turismo como setor de clara relevância para reerguer e sustentar o crescimento econômico nacional. Na verdade nua e crua, as ativdades turísticas no Brasil ainda são, em larga medida, bastante amadoras, como mais uma consequência infeliz daquilo que se fala e promete, mas não se efetiva e nem se cumpre. Um exemplo evidente de ofício produtivo, que costuma operar bem longe do seu potencial. Em viagem regional que fiz neste final de semana para um destino bem demandado do litoral do RN, assisti a algumas cenas de amadorismo que (ex)põe o local como ainda despreparado para o salto de desenvolvimento. Da desqualificação da mão de obra, passando pela baixa qualidade dos serviços e até chegar à fragilidade da infraestrutura (ex.: em tempos de 5 G, deparei-me com várias situações tipo 0 de sinal), um festival de desperdícios de oportunidades econômicas, mesmo com todo blábláblá que se faz em torno do setor. Aqui, cabe bem outro ditado, que extraio com precisão da cultura popular: o homem pode ser senhor do que pensa, mas costuma ser escravo do que diz e faz". Entre o pensar e o fazer no turismo, há mais que uma pedra. Há um fosso enorme de irrealizações.

Enquanto os homens fazem a economia patinar entre pontos estruturais e conjunturais, sejam por decisões inoportunas ou falta delas, restrinjo-me à minha simplicidade analítica para explicar os fatos, por meio da forma em que pessoas tão simples quanto, encaram a vida. E assim, a pouco valorizada cultura popular, pode dar sentido aos temas mais complexos que pareçam. Sigo, assim, nessa minha viagem.

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