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A Dissimulação Social Fez Valer o Auge da Decadência Econômica

Ônibus incendiado no Rio - Tércio Teixeira/AFP

Um novo conflito bélico se instalou no Oriente Médio, mas a guerra urbana brasileira tem sido algo mais presente e preocupante, haja vista o silêncio dissimulado de boa parte da sociedade brasileira. Com tal conduta, a insegurança pública se generalizou, diante do efetivo fracasso de décadas de políticas ineficazes.
   
Por tais motivos, escrevo meio que amargurado sobre um Rio de Janeiro que continua lindo, mas que carrega um peso enorme nos ombros: a solidez de uma decadência variada e implacável. De fato, parte dos fluminenses e cariocas, tem convivido com o fracasso de uma realidade econômica, imposta por um quadro generalizado de insegurança pública, sobretudo, nesse fim de quarto de século.

Claro que preferiria tratar aqui de um Rio, ainda resistente no meu imaginário civil. Aquele da cadência do samba e de outros tantos valores socioculturais, capazes de restaurarem o sentido próspero e amistoso do "Rio maravilha". No entanto, ouso aqui, pela minha liberdade de opinião, tratar da decadência de um território que já foi referência. Afinal, há um pouco de DNA do Rio, em  incontáveis brasileiros. Assim imagino e por isso exerço minha ousadia opinativa.

Para esse meu intento de melhor compreender a magnitude de tal decadência, com um mero olhar econômico, confesso que fui impactado por uma das matérias jornalísticas, sobre a escalada de insegurança e violência que se deu nesta semana. Aprendi nas bancas escolares do velho ginásio, a Geografia do mapa político, que bem define os territórios dos municípios e das unidades federativas. Agora, a Geografia prevalecente dos territórios passou a ser ditada, no caso específico do Rio de Janeiro, pelo campo de ação do tráfico de drogas e das milícias. Uma aberração que bem define dois contextos: o controle do poder (dividido entre traficantes e milicianos) e a consolidação da fragilidade das políticas públicas (transferida do Estado Desgovernado para o Crime Organizado). Um processo de validação social, que por ter agido de modo silencioso, transigente e dissimulado, proporcionou a conquista de uma decadência, singular na contundência e plural na abrangência.

Estudos e pesquisas não faltaram para apontar que o caos socioeconômico é algo tangível.  Da UFRJ à FGV, com incursões que expuseraram estudos até da FIRJAN, as questões socias e econômicas do RJ contaram com diferentes e importantes análises.

Exemplos? Para se considerar a dimensão do fracasso econômico consumado neste século, até mesmo argumentos estruturais, que remontam explicações que vêm dos anos 60, foram muito bem postos em discussão. Nesse contexto, são válidas as considerações sobre as perdas com a transferência do distrito federal em 1960, quando Brasília se apresentou como a nova capital do País. Em seguida, a perda territorial do antigo Estado da Guanabara, traduziu-se também como fato relevante desse processo de decadência (1974).

Somem-se ainda os problemas que vieram com a crise do petróleo (a partir de 1973), a sucessão de governos clientelistas e submetidos aos processos judiciais e, por fim, o desenlace dos efeitos da operação lava-jato, sobre a PETROBRAS e as empreiteiras (algumas sediadas no Rio). Tudo isso teve - e ainda tem - um enorme significado econômico, que agiu como catalisador dessa brutal decadência. Porém, no meu simples entendimento, nada revelou - e ainda revela - um poder tão trágico,  quanto à violência e à insegurança, promovidas pelos efeito do tráfico e das milícias. Funções de uma potência avassaladora, a ponto de se atraírem nos propósitos de poder e dominação, após deixarem para trás as divergências confrontacionistas. É o que se chama hoje de "poder narco-miliciano".

O fundo do poço para o RJ não só adquiriu essa configuração, como tem-se mostrado assustador. É que o dueto violência e insegurança tem contribuído, enormemente, para afugentar investimentos. Afinal, nesse auge da decadência econômica, o impacto social sobre a geração de empregos e rendas têm um preço a pagar muito elevado. 

E se o poder do Estado não é mesmo capaz de controlar a geografia da divisão política do território que tem para administrar, o que dirá convencer a população, os turistas, os investidores e quem quer que queira usufruir do RJ,  de que o ambiente para convívio das relações sociais e econômicas está estabilizado? 

O desafio da superação envolve muita munição. Só que de inteligência.

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