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A fome de futuro e a utopia para realistas

Ilustração: Hugo Carvalho / Editoria de Arte / Folha de Pernambuco

Numa semana encerrada com tantas tensões, entre as quais os recordes nos números da pandemia, não fugiram à regra as adversidades econômicas. Para manter o mundo numa identidade atuarial entre a crise descomunal e a exposição generalizada, as cenas da tragédia nacional representam um "reality show" de horrores, perceptível por quaisquer lentes de observação. E os exemplos da semama foram intensos nesse clima de fragilização socioeconômica.

Do ponto de vista social, a demora geral pelo novo auxílio expôs ainda mais uma fratura vista pelos sinais de aumento do desemprego e da desigualdade. A divulgação de algumas informações sobre o mal desempenho do ensino fundamental foi outra fonte de preocupação. Algo que, no longo prazo, reforça a instabilidade no emprego e o risco de piora no quadro da distribuição de renda.

No aspecto econômico, destaco a reação inédita da política monetária em fazer valer um ponto de inflexão e daí promover a elevação da taxa de juros, por cautela diante dos riscos inflacionários e cambiais. De quebra, no término da semana, a divulgação de uma carta de alerta, contendo mais de 500 assinaturas de economistas das mais variadas tendências e de agentes econômicos de distintos mercados. Todos num consenso em torno da urgência de se tratar a saúde pública como prioridade inarredável. Ou seja, conforme já expus aqui na coluna, há uma avaliação amparada por dois vetores: 1) sem vacinas, não há recuperação econômica rápida; e, 2) no atraso delas, sem protocolos e controle social, a gravidade na economia só perdura. 

Todos esses elementos me dariam conteúdos para discorrê-los aqui. No entanto, prefiro apostar numa proposta mais esperançosa, mesmo que distante no tempo. Afinal, a semana também me trouxe outras expectativas. Para começar, basta se observar o título desta coluna, que é revelador de um misto de opiniões de dois atualíssimos pensadores - Eduardo Giannetti e Rutger Bregman. 

O primeiro, representa um dos raros intelectuais e pensadores brasileiros que, na sua "utopia tropical" desatrelada da filosofia impositiva de Platão e Morus, ensaia um modelo de desenvolvimento com métrica e conceito próprios. Uma tese comprometida com a identidade plural  brasileira, que se respalda no argumento do Nobel em Economia Amartya Sen, de que "há vidas a serem explicadas muito além de se medir friamente o PIB". Por sua vez, a influência do historiador Bregman advém das suas inferências realistas de que pretensas utopias já foram defensáveis e alcançáveis. As experiências de certas estratégias econômicas  aplicadas nesses tempos de pandemia, propiciaram possibilidades antes vistas como utópicas (como a transformação do auxílio emergencial num programa sustentável de renda mínima). Afinal, como disse Bregman, "a pobreza é um dos maiores desperdícios de potencial humano".

Foi nesse clima inspirador, focado numa utopia realista, como forma de saciar essa fome de futuro do país, que tive durante a semana uma conversa extraordinária com duas referências políticas brasileiras - Cristovam Buarque e Gustavo Krause. Dois pernambucanos com larga experiência política e que ainda agregam indiscutíveis conhecimentos técnicos e intelectuais.

Rendido à admiração que tenho por ambos, convergimos para um entendimento em torno de um novo paradigma para o desenvolvimento, onde a educação, a cultura e o meio ambiente se reafirmam como pilares vitais. Nesse olhar para o futuro,  nossa utopia foi assentada numa convivência pacífica e harmoniosa entre os setores, cujo resultado econômico seria avaliado por uma métrica própria, uma espécie de cromometria econômica  "à  moda Buarque". 

Assim, a busca pelo novo me faz crer numa utopia, que careça de um processo lógico para persegui-la. Para quem queira dividir esse interesse, o desafio real é não deixar de fazer o novo Brasil do próprio Brasil.

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