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A Hora da Verdade

A Educação diante dos Desafios da Construção Social

Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio? 

 

Por alguma motivação, essa indagação que foi aludida pelo dramaturgo alemão Eugen Bertholt Brecht à sua época (1898/56), encaixa-se como uma espécie de luva de pelica neste mundo conturbado de hoje. Ao se aceitar que o "óbvio possa ser a verdade mais difícil de se enxergar", expressão esta extraída de uma adaptação em livro da nossa Clarice Lispector, assiste-se hoje a situações comportamentais de incompletude e incredulidade. O óbvio bem parece uma abstração. Por isso, cabe ainda um velho e habitual questionamento: que mundo é esse?

 

De antemão, já afirmo que minha inquietude é resultante da discordância dessa tendência, a que torna o óbvio algo irrelevante. Para isso, trago para o ponto de partida da minha análise uma simples razão, que julgo capaz de explicar inúmeros problemas socioeconômicos postos à mesa das discussões. De tão óbvia, não se cansa de ser repetida como prioridade e solução, mas a irrelevância histórica dos resultados, bem espelha o retrato brasileiro: descrédito público e iniciativas que não se completam.

 

Não me parece difícil se dizer a que me refiro. Acertou em cheio quem apostou na educação. Um trágico exemplo nacional, cuja padronização escolar representa uma clássica demonstração de reprodução da desigualdade. A incompletude de fatos históricos então promissores, tais como a Abolição e a República, demonstraram bem a impregnação do descaso com a educação. Além de teses raciais supremacistas e manifestações de um evidente preconceito estrutural, os resultados socioeconômicos são fáticos.  

  

Um simples exemplo? Bem, se a minha visão analítica mirar para os mercados de trabalho, segmentações estruturais estão por ai, a olhos vistos. Empregos e salários  parecem privilégios para uma minoria: racial, de gênero e de outros perfis invisíveis.   Como diz o mestre Cristovam Buarque no seu mais recente livro, a educação brasileira, por ter-se permitido operar através de acessos desiguais, padece na "ultima trincheira de uma escravidão, assim sustentada há 150 anos." De fato, entre planos e governos que se alternaram com discursos falaciosos de plena prioridade, só me resta a obsessão educacional dos que enxergam o conhecimento como algo transformador. Embora o erro intermitente possa ser capaz de se reproduzir em moto-contínuo, que valha a insistência na verdade da palavra. Assim defendeu Goethe num dos seus escritos.Também assim deve ser o mantra de todos que apostam na educação como porta de saída para encarar os velhos e novos problemas. 

 

No geral, a senzala moderna é a cara de um padrão escolar que, em 150 anos, manteve a práxis nacional da incompletude, ao se sustentar um modelo estruturalmente desigual. As reações na forma de variados preconceitos e até  negações aos distintos conhecimentos são como vetores resultantes de uma educação desigual. Simplesmente, uma engrenagem que parece perder a essência do escravo, sem que a velha escravização seja necessária.

 

Está mais do que na hora do Brasil abandonar seu jeito dissimulado de escapar, diante de situações que impõe uma construção social  mais justa e plural.

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