A Hora e a Vez dos Exercícios Decisórios da Política Econômica
A Execução Diante das Respostas aos Conflitos de Pensamentos e Interesses
Apesar de alguns derrotados insistirem nas narrativas negacionistas que têm contaminado o mundo em diversos aspectos, é absolutamente natural que os palanques eleitorais estejam agora desfeitos. Afinal, é chegada a hora dos novos governantes exercerem seus poderes decisórios, por maior que seja e resiliência que embasa conflitos de pensamentos e interesses.
Parece-me evidente que tal aspecto passa a ser a "bola da vez", quando os impasses econômicos se colocam à mercê das decisões políticas. De pronto, digo que não cabe mais insistir na tese conflituosa de que a importância do controle fiscal anula qualquer compromisso com as demandas sociais. Claro que há como se mostrar as demandas sociais urgentes, diante dos fracassos econômicos, sem que se ponha em xeque um mecanismo de salvaguarda fiscal. O que não se pode fazer agora é dar sequência ao discurso eleitoral, quando o viés do pensamento econômico ou do interesse populista tende a espantar os agentes opostos.
De imediato, vale por agora na agenda das decisões o drama social que caiu no colo do novo governo. Além de uma questão estrutural contributiva de boa parte da nossa dívida social, há mesmo que se levar em conta outros aspectos em linha de urgência pública, como o combate à fome e a proteção aos desempregados. Tudo isso numa perspectiva programática de reconstrução, que careça ser montada num modelo mais eficaz e competente. Seja por via de um conceito, que exija destinação exclusiva para os mais necessitados e em estado comprovado de vulnerabilidade. Assim como, por um meio que possa ser custeado de modo cíclico, no sentido de ser fortalecido nos momentos socioeconômicos mais críticos e reduzido nas situações de prosperidade. Um instrumento que transmita uma plena confiança nas politicas sociais, de tal sorte que minimize os riscos explícitos de populismo.
Quando esse esforço em favor da restauração da confiança é posto à mesa dos debates econômicos, cai sobre a mesma outra polêmica de igual teor, mas de menor envolvimento com a política social. Refiro-me à questão da prorrogação do artifício de sustentação do preço dos combustíveis. Esse foi um dos instrumentos de manipulação populista, que foi abusado pela incontinência de uma vantagem eleitoral inconsequente, abertamente praticada pelo governo que saiu. O impasse visto na transição foi consagrado por uma decisão - a meu ver - precipitada. Penso que a ideia da prorrogação poderia ter em conta um prazo mínimo pactuado. Ao sinalizar com a continuidade, o governo garantiu algum oxigênio de sobrevida, capaz de dar sentido aos argumentos de apoio a outro ranço de cunho populista. E abre até insinuações de contradições por dois vetores distintos. Primeiro, por sustentar uma medida que subsidia o topo da pirâmide social, onde o consumo da gasolina se apresenta mais forte. Segundo, por também dar sentido a um apoio público junto aos setores que não operam com energia limpa. Pontos esses que são amplamente contrários aos conceitos expostos em campanha, ideológicos e pragmáticos.
Como tudo só começa agora, é preciso reconhecer que outras iniciativas de política econômica precisam vir à tona para calibrar as decisões. E que elas sejam tão mais equilibradas quanto necessárias.