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A Longa Espera pela Conquista do Parque Automotivo de PE (Parte 2)

De Velhos Discursos e Planos, Tudo Pode Chegar com o Tempo

Jonathan Nackstrand/AFP

Encerrei a primeira parte do texto há duas semanas, anunciado seu complemento na sexta-feira passada. O tamanho do imprevisto por não poder escrevê-lo dentro do que programei, só não foi maior que o impacto causado pelas boas expectativas geradas pela essência da análise: o consistente desenvolvimento do Polo Automotivo Stellantis, em Goiana. 

Se naquele texto inicial fiz questão de enaltecer a soma de esforços dos gestores públicos, da concepção à instalação daquela planta industrial, cabe-me agora referenciar a aposta no sucesso do empreendimento em si. E aqui não me refiro apenas aos apelos macroeconômicos convencionais, como a geração de empregos e rendas. Preciso também dar relevância às poucas referências que se fazem sobre as questões de natureza microeconômica, considerada a magnitude de um investimento, como é o caso de uma montadora de veículos. Trabalharei assim o tema, num simples mix de valores entre o que é macro e o que é micro. Penso que assim se dá mais sentido à análise.

De fato, aqueles efeitos macroeconômicos, que já se previam nos velhos tempos de ideias e planos, consumaram-se de modo implacável, recentemente. Se Pernambuco acompanhou o crescimento do Nordeste acima da média geral, nas últimas duas décadas, em parte isso se deveu ao Polo Automotivo de Goiana. Os números que adensam os estudos da consultora CEPLAN mostram bem a extensão dos impactos, efetivamente, causados pelos bilhões investidos pela Stellantis. Valendo, da concepção do projeto até 2022. Assim, os fluxos reais e nominais de empregos e rendas (sobretudo, salários e tributos), vistos num breve olhar para a cadeia produtiva constituída pelo grupo empresarial, revelam bem a ordem de grandeza das conquistas. Algum bom exemplo desses impactos positivos? Sim, basta mirar para a transformação da cidade de Goiana como a quarta economia municipal de Pernambuco.

Não me ative na exposição de tantos números favoráveis, porque a própria Folha de PE, numa série de matérias, trouxe essa evidência à exaustão. Prefiro assim, qualificar esse sucesso empreendedor, justo nos valores microeconômicos, que têm diferenciado tão bom desempenho. Nesse sentido, destaco aqui dois aspectos relevantes: um sobre a opção de localização e um outro referente à aposta feita em torno do capital humano. 

No primeiro caso, cabe enaltecer a decisão empresarial por investir numa área desprovida de uma "cultura econômica automotiva". Sem que me atenha aos prováveis efeitos da concessão de benefícios fiscais pelo ato da escolha, o significado do valor microeconômico está também noutro mérito. Certamente, aquele do reconhecimento que se extrai da própria localização, no que representa o melhor sumo possível dos fatores necessários à produção. Isso vai desde a crença de que trabalhadores rurais e de outras funções,  poderiam operar com êxito tecnologias avançadas nos seus novos postos de trabalho, como seria possível induzir e introduzir segmentos da cadeia industrial no próprio perímetro da fábrica. Enfim, assimilou-se um componente de ousadia empresarial, num território sem históricos associados, que consagrou a validade do que foi investido, no sentido amplo do termo.

O outro contexto digno de análise, expressa para mim um compromisso empresarial afinado com as grandes questões da sociedade moderna. Valorizar a humanização nas relações econômicas representa uma via de sentido único, cujo alvo é encontrar os meios modernos para buscar o desenvolvimento sustentável. A transformação social promovida em Goiana, por meio de valores educacionais que, para este caso, ensinaram substituir o manuseio de engrenagens de engenho por robôs automatizados.

 A decisão por se instalar em Goiana, com esse objeto de valorizar o capital humano e, por conseguinte, seguir rotinas operacionais que se esforçam no engajamento de profissionais imbuídos de cidadania, fazem mesmo a diferença. Tal postura da Stellantis exprime ações que ajudam na perspectiva de um modelo de desenvolvimento socioeconômico, comprometido com um mundo mais sustentável. Que essa trajetória seja continuada.

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