A outra face da soberania do consumidor
Na coluna passada, enalteci o papel da soberania do consumidor como um dos fatos econômicos mais relevantes das sociedades modernas. As inovações decorrentes da tecnologia e da criatividade trouxeram essa evidência para o cotidiano, transformando os indivíduos em agentes econômicos soberanos. Ou seja, com capacidade de exercerem com mais liberdade suas preferências de consumo.
No entanto, toda inovação, sobretudo quando o componente tecnológico traz consigo uma força motriz expressiva, revela-se também pelas suas contradições, com avaliações positivas e negativas. Nessas horas, a dialética hegeliana parece fazer sentido e dita as regras do jogo.
De uma forma clara, parece-me um argumento defensável que um poder forte, sob quaisquer situações, pode proporcionar reações as mais distintas possíveis. E não seria diferente o fato desse modo novo de "empoderamento" gerar indivíduos menos solidários e mais egocêntricos. Nesse ambiente 4G (quase 5G), as facilidades são tão grandes e acessíveis, que a prática natural do individualismo, quando feita de modo exagerado e sem controles, pode trazer algumas consequências indesejadas para a sociedade, com efeitos mais notórios sobre certas atividades econômicas. Nesse sentido, destaco os riscos de um comportamento homogêneo e de uma indigência cognitiva.
No caso da homogeneidade, vale lembrar que a crise mundial gerada pela pandemia reforçou a tese em favor de uma "economia solidária". Isso quer dizer que, para as forças do mercado, as maiores implicações são ditadas pela redução de custos (para quem produz) e pelo corte de despesas (para quem consome). E qual o efeito final dessas forças? Seria mais uma tendência natural de um vetor que atua na direção de um PIB menor. Digo "mais uma" porque o próprio envelhecimento da população, por exemplo, traz também efeitos de uma menor produção (menos mobilização por pessoas economicamente ativas) e maior contenção dos gastos (na faixa etária mais velha).
A questão da indigência cognitiva está associada à acomodação natural, que decorre de uma facilidade tecnológica capaz de "oportunizar" e "automatizar" as atitudes do indivíduo, em qualquer reação sua em prol do consumo. A certeza do que deseja ou do que pode alcançar por suas atitudes na escala de preferências, pode tornar o indivíduo indigente, dado o leque de escolhas.
Nessa perspectiva de análise sobre o poder do indivíduo, parecem-me inevitáveis as contradições econômicas que pautam a agenda do futuro. O processo dialético está num modelo econômico novo, centrado na liberdade e no poder das escolhas individuais, embora num ambiente mundial, cuja dinâmica atual impõe freios em favor do coletivo, das ações solidárias e das garantias ambientais. O tamanho do PIB será consequência da solução para uma equação, na qual se distinguem o ímpeto individual e o controle coletivo. Consumo soberano, mas acautelado.
SUAPE > Depois da abertura solene do I Fórum Nordeste Export, na última segunda-feira em Suape, ontem o evento reservou em pauta uma discussão sobre o potencial de crescimento da região nordestina. Todos os elementos técnicos tratados no evento serão levados ao Fórum Nacional, em novembro.