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A piada requentada da inflação e o "novo normal" sem água e luz

Sigo na mesma pisada da coluna anterior, inspirado na sátira do "Macaco Simão" com sua máxima: "que o Brasil é o país da piada pronta". Dentro desse papel (tragi)cômico, trago hoje a opinião sobre uma piada requentada, haja vista o frisson que o tema causou por pouco mais de quatro décadas no século anterior. Refiro-me à inflação. Uma história que ficou impregnada na sociedade, com a qual a atualíssima geração Z, por exemplo, não contou com qualquer vivência e identidade. Ou melhor, não tem a menor noção do estrago.

No entanto, se a circunstância trouxer de volta agora à cena o processo inflacionário, isso representará algo que pode ser traduzido com aquele humor convencional. Daí, imagine-se a reinserção de temas de um passado, mesmo que recente, como passam a ser os casos das emergentes crises hídrica e energética. No sentido do impacto econômico causado pela falta de água e luz, parece claro que haverá motivos para mais piadas prontas. 

Nesse contexto, ao se mesclar as contradições políticas do país com as perplexidades de uma sociedade perplexa pela volta de temas passados, o humor reforça seu espaço natural. Como um mero arremate fora dessa jogada satírica, inspiro-me ainda nas proféticas palavras de Cazuza, que numa das suas canções enfatizava: "eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades". Sábias palavras, que revigoram o verniz necessário para que se tenha o brilho de um humor mais cáustico e inteligente. Motivos sobram.

Para essa assertiva, basta considerar o retorno do temor inflacionário. Se esse risco em si já estava projetado por pressões episódicas (derivadas da  oferta agrícola ou das consequências do efeito pandemia), num nível tolerável, a situação agora passou a ser mais preocupante. Afinal, a repetição de uma nova crise hídrica, com efeitos severos sobre a matriz energética, representa uma forte pressão sobre os indicadores de inflação.

O que quero dizer com isso? Bem, é que o Brasil não parece querer aprender com a experiência dos velhos erros. Afinal, as malévolas lições da "cultura inflacionária", da crise de abastecimento d'água e dos "apagões" de energia elétrica poderiam ser minimizadas. Talvez, num nível suficiente para não gerarem motivos para sátiras irônicas. 

Claro que parte desses efeitos deletérios que envolvem os temas da água e luz pode ser visto como uma simples consequência da natureza. Mas, justamente por essa dependência, também não há como desconsiderar o desleixo governamental sobre as questões climáticas. A negação renitente aos valores e rigores do ambientalismo tem considerável parcela de culpa nesse processo. Também em nível suficiente para transformar a política ambiental brasileira em objeto de chacota. Nesse ponto, a sátira ganha um protagonismo internacional. Uma piada pronta para exportação "made in Brazil".

Assim, de crise em crise, o Brasil parece enriquecer o repertório para piadistas. No entanto, sobra o "bullying" para os economicamente mais desprotegidos, que irão encarar escassez de água e luz, contas a pagar asfixiantes e, de quebra, o "imposto" perverso da inflação. 

Enfim, uma economia embalada pelos espasmos de piadas prontas.

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