A prevalência da fome de poder
Enquanto isso... insegurança alimentar e falta de cultura comprometem o futuro
A pergunta que não quer calar, bem apropriada para os que se mantêm pela fome de poder e por ela pagam quaisquer preços: a quem interessa a escalada da fome, nas suas manifestações mais evidentes e preocupantes?
Os fatos históricos já registraram que, quando o compromisso pelo poder se revela assim tão piegas, o primeiro passo costuma ser dado a favor daquela forma de populismo mais autocrata que se conhece. A fé cega e desmesurada pelo exercício do poder atropela a sensatez e daí desumaniza os cidadãos.
De fato, a contundência da realidade não representa algo que se omita. Enquanto outras fomes se mostram bem mais marcantes, para a parcela da sociedade envolvida com esse populismo de plantão, converge apenas a fome dos projetos de poder. Seja pelo individualismo narcisista e supremacista de líderes e seus liderados. Seja pela representação de um estrato social tão singular, que se mostra incapaz de enxergar os dramas socioeconômicos de uma nação tão plural. Ponto para esse novo modelo de apartheid, que foi plantado, adubado e cultivado no país. Mais um contraste preocupante para tantos Brasis em um.
A fome de alimentos é a mais indigna das situações sociais, vergonhosamente resgastada nos últimos anos, quando se imaginava sob controle. Já tive a oportunidade de dizer neste espaço que me sinto um cidadão impotente quando, em pleno século XXI, uma economia como a brasileira não consegue dar uma resposta básica para dezenas de milhares de cidadãos: comida no prato. E esse desmantelo que põe a economia brasileira num triste padrão somaliano, não esconde a outra face de uma sociedade que comemora seu padrão luxemburguês. A velha "belíndia" bachaniana agora se revela como uma "luxemália", com piores indicadores de desemprego estrutural, pobreza absoluta e fome vergonhosa.
Ademais, à fome de alimentos, que não consegue suprir os buchos famintos de tantos brasileiros, some-se a fome por culturas e conhecimentos. Esses são vetores vitais para qualquer projeto de desenvolvimento.
No entanto, os mesmos que se saciam do poder e ainda negam a fome da falta de alimentos, fazem questão de promover a inanição dos que tentam dar sobrevida na forma de cognição. Esquecem da apetência de quem precisa fazer da educação, da cultura e da ciência um projeto de desenvolvimento nacional. Querem um simples exemplo? Os líderes e liderados que promovem a destruição da cultura são os mesmos que afirmam não existir sinais de insegurança alimentar no Brasil de hoje. Diante de tamanha agressão oral de pura insensibilidade, não se poderia pensar diferente, diante de líderes que não imaginam o que há de sensivel naa artes. Afinal, mais vale una arma na mão arma na mão, do que livros, filmes, shows ou peças. Vive-se aí no auge da imbrochalidade.
Parece que esse apartheid moderno, que separa o Brasil de forma odiosa, fez questão de levantar o muro que distingue nosso Luxemburgo da Somália. Uma linha imaginária, invisível. Mas, que não consegue omitir o tamanho da tragédia social que lhe dá nutrição. Neste aspecto, a invisibilidade só existe quando a atitude pública esperada é remover a exclusão que fere a dignidade desses cidadãos. Uma atitude que rompe com os interesses dos "podres poderes".