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A Queda da Desconfiança Muda os Rumos da Economia

Como a Articulação Política é Capaz de Rever as Expectativas Econômicas

Bola rolando. A histórica insegurança da torcida parecia prevalecer, em mais um jogo decisivo. Para surpresa geral, o time foi aplicado e conquistou a primeira vitória. O campeonato ainda é uma meta distante, mas o primeiro passo foi dado. Depois de décadas, a possibilidade do título numa das competições passou a ser fato concreto.

Faço uso dessa simples parábola esportiva para tratar do atual momento econômico, após o avanço representado pela aprovação inicial do extensa e complexa reforma tributária. Se meu ideal de título de campeão não deu sentido ainda à minha ficção, na essência da dura realidade, contar com a primeira etapa da reforma ainda não foi tudo. Todavia, representou uma firme convicção: que as expectativas econômicas podem ser revisadas, conforme o trato racional que se dê às negociações políticas.

De fato, pareceu-me um bom começo. E, por força das minhas natas convicções, uma crença que já se fazia presente ao meu ideário. Afinal, em qualquer campo do jogo da vida, costumo apostar no equilíbrio, na capacidade de negociar, num meio de  me distanciar de paixões extremas, que extraiam o senso técnico. É bem o conceito que me esforço para por nesta coluna: nem 8, nem 80. Enfim, cabe-me neste episódio até um gesto de ousadia analítica, pois  o que me pareceu ter faltado nos climas dos recentes embates eleitorais, teve de sobra agora, justo no trato surpreendente de um tema econômico tão delicado - a reforma tributária. Quase três décadas se passaram, para que a economia desse motivo para uma espécie de consagração da esquecida "terceira via". A mesma cuja evidência, comprovadamente, tornou-se fato inacessível para a história política do país.

Ainda sobre essa minha aposta, em defesa do equilíbrio analítico e da crença efetiva de que "negociar é preciso e possível", revivo alguns tópicos, tratados aqui mesmo na coluna. Seja por algum panorama geral, ou mesmo, por alguma proposição específica. No que concerne ao cômputo geral, por exemplo, destaquei a necessidade tolerante de se  aguardar os primeiros movimentos da equipe econômica do governo. Num olhar mais específico, abordei sobre a recente decisão do COPOM, por não ceder minimamente um recuo da taxa de juro, apenas para sinalizar  alguma intenção sobre alguns sinais prováveis de recuperação na economia.

Naquela questão que envolvia um alto grau de desconfiança, associado às primeiras iniciativas do governo, prevaleceu a tese de que a pouca aposta na capacidade e na experiência da equipe, para lidar com o volume dos problemas econômicos, estava mesmo à mercê dos riscos de intromissões políticas. Vale dizer que, entre governantes, algo que se mantém respaldado pelo histórico intervencionista de uma forte ideologia partidária. Nesse sentido, poucas foram as evidências dos que puderam transmitir o contrário, na perspectiva do voto de confiança à uma proposição de política econômica que não perdia de vista a relevância do controle fiscal, mesmo que fosse submetida a emergência dos gastos sociais imprescindíveis. Resolvi acreditar nessa reserva de possibilidade, porque as intenções pelas reformas no discurso, ainda me tocavam o suficiente.

O fato mais relevante dessa minha crença foi uma outra linha de defesa, que já poderia ter sido assimilada por nossas autoridades monetárias, na última reunião do COPOM. Mesmo que discreta, uma reação mínima por algum sintoma de estabilidade, permitiria aos integrantes dol comitê um gesto com a cadeia de confiança na política econômica. Entendi que abrir mão de algo como 0,25% na taxa básica de juros, seria uma demonstração de que as políticas fiscal e monetária pudessem ser logo reaproximadas. E até houve movinentos intencionais dos mercados para essa direção. O fato não se deu, mas a constatação agora com o advento da reforma tributária aprovada, parece ter mostrado que o nível de confiança anterior poderia ter dado um sinal de reversão das expectativas já antes, do jeito que se percebe agora.

Seja qual for o modo de encaraá-lo, apesar dos desafios que ainda carecem de enfrentamentos, o momento atual tem lá todo um mérito digno de reconhecimento. Cabe, aliás, parte dessa responsabilidade, ao engajamento persistente e habilidoso do Ministro Haddad, que lá no início da sua gestão, viu-se cercado pelos ritos da desconfiança. Até mesmo, de dentro do governo. Como entendo que compor a gestão pública da economia, num país complexo por natureza, não seja o melhor dos empregos, sua missão (e da equipe), neste primeiro semestre, já está consagrada como vitoriosa. É preciso manter o foco e olhar ainda mais para as demandas de uma economia, que possui  enormes carências.

A desconfiança foi vencida. Mas, o jogo ainda segue, na intenção de se preservar as expectativas, para que possam se manter estáveis e frutíferas. Consagrados no segundo semestre um cenário externo favorável, com inflação sob controle e ainda uma marcha de queda nos juros, a projeção de 2,5% a mais de crescimento para 2024 parece mais tangível do que nunca. Ainda enxergo motivos para seguir na crença e crer no título do campeonato.

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