A riqueza e a pluralidade cultural fazem a diferença no turismo
Como as experiências gastronômicas promovem um sabor especial nos negócios?
Na minha trajetória profissional, por duas ocasiões, tive a oportunidade e o privilégio de exercer funções executivas relacionadas com políticas públicas para o turismo. Fui além da percepção do meu papel, em tentar inovar naquelas gestões, quando trouxe à cena as correlações existentes entre o turismo e a cultura, mesmo que já percebesse algumas resistências conceituais e ideológicas em ambas as áreas.
Como um exemplo de resistência conceitual destaco aqui um modelo usual de venda turística, seja pela visão do agente publico ou do empreendedor privado. Nesse sentido, a rija fixação que se tem no apelo turístico do "sol e mar" aqui no Nordeste, historicamente tratado com ímpeto pelo "trade", tem colocado em segundo plano outros valores. Particularmente, nessa defesa do viés exclusivo de uma natureza, que é capaz de gerar essa vantagem comparativa para o Nordeste, minimizar ou dispensar a diversidade e riqueza regionais como valores turísticos, parece-me mesmo um ato falho. No extremo dessa lógica, juro que não consigo compreender como um turista europeu paga por um "pacote" de um tal "resort", de tradições e costumes iguais ao seus, sem que interaja com os valores culturais locais. Por exemplo: é incrivel assistir à cena de italianos, escarlateados pelo vigor do sol, passarem 24 horas dentro de um resort, comendo e bebendo aos melhores padrões e estilos da Itália. Uma incongruência.
Por outro lado, ao se tentar estabelecer uma linguagem econômica uníssona entre o turismo e a cultura, ranços ideológicos surgem para conter quaisquer entusiasmos a respeito. A tentativa de justificar a agregação dos esforços, por um viés econômico que se traduza como "indústria do entretenimemto", ainda provoca em setores da cultura reações contrárias. Quem produz arte, nos seus mais distintos meios e formas, esquece que quem está disposto a exercer sua preferência e dai justificar o seu consumo, estabelece hoje, de modo criterioso, sua demanda. Essa, nos tempos atuais, tem sido posta no.mercado diante de alto grau de soberania. Cada vez mais, a procura por bens e serviços culturais tem-se guiado pela sua força e representatividade. Sustentando-me nessa premissa, o Nordesre da cultura rica e diversa seria um diferencial a mais para ser considerado.
Alguns raros sinais de percepção desse fato já pairam no ar. E quem tem contribuído para esse novo status tem sido o setor da gastronomia, sobretudo, quando ele se revela como atividade econômica de considerável dimensão. Estima-se que os negócios da gastronomia girem algo como R$ 300 bilhões/ano, sendo maior que outros importantes setores da economia.
Em tal contexto, além desse apelo econômico, o lado cultural da gastronomia merece todo reconhecimento. Assim, o setor se habilita a ser reconhecido e valorizado, de modo estratégico, tanto para a cultura, como para o turismo. O crescimento do setor nesses dois vetores (econômico e cultural) comprova que as experiências gastronômicas têm mesmo promovido um sabor especial aos negócios. E na percepção de vendas turísticas que gerem consumidores seduzidos e encantados, nada mais identificado do que a gastronomia.
Dois casos particulares ilustram bem minha tese. O primeiro, na cidade de Piranhas/AL, onde a venda turística está associada à natureza da paisagem ambiental do São Francisco. O segundo, na cidade de São Miguel do Gostoso/RN, onde o apelo do "sol e mar" é o que motiva a atração do fluxo de turistas.
"Nalva Cozinha Autoral" é o caso de Piranhas. Apesar de uma apresentação de nível internacional, a cozinha traz os sabores das tradições e costumes nordestinos, em combinação com artes culinárias de fora. O "Jangadeiro Gastrolar" é outra experiência fascinante, que agrega um valor extra para quem demanda por São Miguel do Gostoso, para curtir "o sol, o mar e os esportes". Como este caso terá em breve um exercício correspondente aqui na Praia do Cupe, terei depois oportunidade de destacá-lo ainda mais.