A similitude da velha alquimia política para atenuar a economia
Ao se olhar para este último bimestre do ano, o cenário de incerteza e volatilidade parece consolidado na economia brasileira. Com esse quadro tão sintomático, os efeitos insalubres da multicrise que tomou conta do País desde o final do primeiro trimestre poderão trazer possíveis sobressaltos em 2021.
Numa perspectiva como essa, não menos preocupante é a adoção da velha alquimia política de desviar focos e manipular opiniões. Enquanto o Governo se perde em discussões estéreis e histéricas, em torno de temas ideológicos e do palanque de 2022, o cenário econômico movido pelos indicadores da Macroeconomia emite sinais de desgastes.
Dois vetores atuam para esse clima de instabilidade. De um lado, o vetor de fatores exógenos, em larga medida explicado pela "segunda onda" de contaminações provocadas pelo coronavírus, pelas indefinições que derivam dos resultados das eleições americanas e pelo desgaste oriundo da política ambiental. O outro vetor, de fatores endógenos, está assentado em situações como a inércia das reformas econômicas, os riscos de explosão das desigualdades sociais e a própria incompetência em lidar com a gestão da crise sanitária (o agente principal dos problemas econômicos).
Antes de entrar no mérito da discussão que esses vetores trazem à baila, é importante que se frise aqui os sinais que os indicadores revelam de tão preocupantes. Vejamos:
a) taxa de câmbio sob ameaça de atingir a incrível marca de R$ 6 para US$ 1;
b) índice geral de preços em tendência de alta (a inflação dos alimentos sibiu neste ano 12,6%);
c) riscos de combinação de alta inflacionária e recessão;
d) deficit fiscal e endividamento público em níveis insustentáveis;
e) taxa de juros SELIC no limite mínimo (hoje de 2%), posto que a pressão fiscal poderá impor uma retomada de alta;
f) 14 milhões de desempregados, com tendência de alta, pelo refluxo dos desalentados, pelo risco do fim das desonerações da folha salarial e pelo fim do programa de renda emergencial.
Assim, nesta primeira parte do texto, comento alguns dos aspectos exógenos, que trazem preocupações adicionais ao quadro exposto.
A retomada da crise sanitária pelo mundo, em forma de segunda onda e com novas regras rígidas de isolamento, reflete mais um efeito negativo sobre o nível da atividade econômica. Em particular, esse retrocesso que decorre dos parceiros comerciais tende a contribuir para que nossa balança comercial seja afetada de modo desfavorável.
Outro efeito que traz insegurança no cenário externo depende do resultado eleitoral nos EUA. Se for confirmada a vitória de Joe Biden, as relações comerciais brasileiras precisarão passar por um novo crivo, haja vista a equivocada opção do Governo em por as identidades ideológicas acima das questões econômicas. Para mudar, seria necessária a restauração de uma habilidade diplomática que não parece ser do cariótipo do atual governo brasileiro.
Um terceiro aspecto externo, diz respeito aos desencontros da política ambiental brasileira. Novamente, ao consagrar os valores ideológicos como referenciais, o Governo optou por não agir com o devido equilíbrio entre os dois "S" vitais nesse trato: sustentabilidade e soberania. Por tornar a carga ideológica exacerbada, põem-se em risco não só o apoio de fundos específicos do setor, como investimentos estrangeiros que amarram à sua agenda políticas sustentáveis, que conciliem o crescimento econômico com a preservação ambiental.