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A Trinca do Poder Ministerial e o Coringa das Estatais

Como Buscar Consensos diante dos Possíveis Conflitos da Agenda Econômica, no Curto Prazo?

Do ponto de vista da agenda econômica, o novo governo inicia seus movimentos e suas intenções, numa perspectiva de curto prazo, na qual a busca por mínimos consensos precisará fazer parte da estratégia. Esses sinais serão fundamentais para um entendimento amplo do que será o comportamento das políticas públicas, visto pela sociedade, pelos mercados e pelos seus mais discretos agentes.

 

O tamanho do desafio já se sabia, mas a maneira de lidar com toda a "engenharia política", que está por trás desse operacional, não me parece tarefa para amadores. Afinal, na maioria dos setores, está agora confirmado o estrago feito, de tal modo que se somam às demandas públicas, outras tantas despesas. O slogan recém lançado, que propõe conjugar os verbos "unir" e "reconstruir", não só carece dessa ordenação (na busca pelos consensos),  como irá exigir muita intransigência na responsabilidade fiscal. Uma situação já complexa no curto prazo, embora que capaz de ser logo superada e daí se saber sobre a condução política resultante, mesmo que dadas as diferenças de opiniões.

 

A cena política do exercício efetivo da equipe econômica começa hoje, após a posse de Simone Tebet, última integrante do time, a tomar posse do seu espaço. De um contexto anterior personalista, no qual o ofício se deu de modo centralizado, pela decisão politica de se operar com um ministério único, agora o jogo de cena passa a revelar que há outras áreas de extrema valia postas sobre a mesa (além de Tebet, a considerar o referencial político de Haddad e Alckmin). Mais do que o peso de se pautarem como prováveis candidatos à presidência em 2026, está no foco um exercício de poder que exala diferenças no pensamento econômico. Mesmo que o esforço pelo consenso mínimo seja  algo palatável, em algum momento certo nivel de divergência tenderá a vir à tona. Até por conta de uma identidade natural que se fará vital num eventual embate eleitoral. 

 

Apesar do esforço prometido, em nome da união, vale dizer que o extrato dos eventuais consensos da equipe econômica, parece se submeter ainda ao ritmo ditado pela atividade politica. O primeiro exemplo disso já se deu e não foi bem aceito por muitos agentes sociais. Refiro-me aqui à prorrogação do artifício de segurar os preços dos combustíveis. A surpresa não ficou pelo fato de a Fazenda e Haddad se pronunciaram contra. O que causou alguma instabilidade foi perceber que o staff politico - mais uma vez - pôs sua carta decisória sobre a mesa.

 

Nesse jogo, portanto, não basta compor e daí construir um consenso, com base no peso da trinca Haddad, Tebet e Alckmin. Vale o quanto pesa o vetor composto pelas forças politicas que pouco se atrevem a enxergar o quadro pelas lentes fiscais.

 

No que houver de empecilhos para segurar esse ímpeto do jogo de cena da político, em termos de preços dos combustíveis, não dá para fazer da PETROBRAS aquele coringa que permite vantagens decisivas, de acordo com o jogo que se deseja jogar. O fundamental nisso é que a carta tenha na essência a expressão do coringa, mas que seja jogada dentro de regras estabelecidas. Se os preços externos são pontos determinantes, que sejam então considerados. Se a politica de sustentação tributária imposta às unidades federativas se revela como uma bomba de efeito retardado, que se restaurem as condições iniciais ajustadas. Fazer desses impasses mais um argumento para discórdia, capaz de respingar na equipe econômica, será submeter o governo a tudo que não se quer: desconfiança, inseguranca e instabilidade.

 

Há tempo para se manter os ânimos serenados. Seja qual for a perspectiva a ser considerada. Do governo, dos mercados e da sociedade. Esse passo pela união é vital para a desejada reconstrução.

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