A Utilidade do Pragmatismo de Ocasião nas Políticas Econômicas
Rigor dos Dogmas Compromete a Estabilidade numa Economia como a Brasileira
A complexidade dos problemas econômicos, sobretudo, em economias com históricos de instabilidade, tem sido um desafio para economistas e demais operadores do setor, nas ações que dizem respeito às peculiaridades das gestões publicas. Na maioria das vezes, as experiências parecem irrelevar estratégias heterogêneas, haja vista a aposta por medidas plenas e isoladas de linhas ideológicas. Ou seja, dado determinado problema, a solução que cabe ao gestor só pode ser aquela que se respalde nos seus dogmas acadêmicos, justamente aqueles nos quais a iderança foi formada.
Claro que não há nada de errado nesse princípio. Nem muito menos o valor cogniitivo que até bem represente o sucesso profissional desse gestor, em distintos ofícios privados. O que sempre me chamou a atenção foi a essência e a diferença do que pode ser a política pública. Nesta, pressupõe-se um outro grau de comprometimento, uma vez que a solução dos problemas possui dois níveis maiores de desafios: 1) o enfrentamento de uma cultura de instabilidade impregnada numa sociedade desigual; e 2) uma realidade de soluções coletivas de baixa efetividade, tamanha é a diversidade que impera na sociedade. Enfim, a histeria dos embates ideológicos, se liberal ou intervencionista, pode ser instrumento estéril, posto que a ocasião tende a falar bem mais alto.
Diante desse meu entendimento, surpreendeu-me a reação do atial ministro da Casa Civil, Rui Costa, quando foi incitado a comentar sobre as eventuais divergências da equipe econômica. Embora possa entender sua atitude como uma acomodação política, entendo também sua precisão pelo realismo econômico de um país naturalmente submetido à dinâmica de uma economia complexa e diversa. Portanto, couberam bem as palavras do ministro, que difundiu sua convicção de que a atual conjuntura econômica impõe ao governo a necessidade de "fugir dos dogmas econômicos". Isto é o que chamo de uma politica econômica assentada no "pragmatismo de ocasião". Isso que dizer que existem condições ambientais para se aplicar medidas mais ortodoxas, assim como, outras ações complementares, mais alinhadas com o intervencionismo governamental.
De fato, a economia brasileira é um excelente laboratório de testes: altos e baixos no seu padrão de estabilidade e, em distintos níveis, desigualdades crônicas. Será que, sozinhas, as instrumentalizações ortodoxa e heterodoxa dão mesmo conta do recado? Nossa história econômica parece nos apontar que os exageros dogmáticos, empregados de modo inoportuno, não foram assim tão exitosos.
O experimento mais recente, justo do governo que saiu de cena, revela não só esse padrão errático como um contrassenso ideológico. Em suma: uma gestão de formação "ortodoxa de raiz", que se dobrou ao extremo intervencionista, por conta da sua entrega política ao populismo escrachado. Vale dizer que a gastança não foi devido a uma necessidade controlada imposta pela pandemia. Em função desse episódio foi que o governo pressentiu o vácuo político e avançou na direção de uma pauta populista irresponsável.
Nessa circunstância e diante de mais um quadro atual de brutal instabilidade, o que falta é uma gestão equilibrada entre o desmantelo fiscal e o desastre social. Um quadro cujo contexto revela a utilidade do pragmarismo de ocasião.
Sem qualquer meio de fanatismo dogmático, o caminho é dosar os instrumentos liberais, para minimizar o desequilibrio fiscal, junto com os intervencionistas, para resgatar a melhoria nos indicadores sociais.