A Venda Pesistente do "Mar e Sol"
Baixa Dimensão da Cultura na Oferta Turística Ajuda a Reduzir o Valor Econômico do Produto Cultural
A marca inexorável de ser um "país tropical" sempre fez do Brasil uma atração turística. O privilégio natural de contar com praias paradisíacas e sol de verão quase que o ano todo, sempre fez a diferença. Afinal, tudo isso agrega uma reserva de validade ainda por se explorar, embora já represente uma "embalagem turística" que, no atual ritmo de consumo, exija uma dose de cautela analítica.
O quadro merece reflexões. Além de erros que se mantêm comuns às estratégias de marketing turístico, existem questões outras de áreas transversais, que precisam ser levadas em conta, no planejamento do turismo. Seja pela amplitude de ações estruturadoras que cabem às esferas públicas. Seja pelas ações de estratégias comerciais que partem da iniciativa privada.
No texto da semana passada, embora tenha endossado a conquista dos quase 7 milhões de turistas (apesar de ser tal número incondizente com nosso potencial), chamei a atenção para a sustentação da venda maior e insistente pelo binômio "mar e sol". Não que minha prudência de mero analista seja refratário a esse modo de fazer o mote do marketing turístico. É que quero apenas manter um velho alerta, no qual a sustentação de tal modelo, envolve falhas e riscos na pegada.
De fato, se tal opção fez até por superar o tempo do absurdo, onde se explorava a imagem de "modelos femininos em ousados trajes tropicais", a implantação dessa mudança radical não se fez acompanhar de outras iniciativas tão instigantes quanto. Digo aqui sobre algumas ações preventivas, sobretudo, quanto aos excessos do mesmo viés único, enquanto aposta de oferta turística. Por outro lado, têm faltado esforços que ofereçam a riqueza e a pluralidade de uma expressiva produção cultural "made in Brazil", que há muito tempo tem merecido prioridade, na oferta dos atrativos turisticos.
Nessa questão preventiva, preocupa-me o fato de ser o planejamento um ente pouco comum às gestões públicas e privadas. Por essa razão, não seria diferente que o planejamento turístico esteja inserido num ambiente de desleixo. E quando aqui digo que se faz necessária que a oferta do "mar e sol" tenha uma essência preventiva, quero tratar de excessos que põem sob risco a pauta ambiental. Posto isso, considerar a transversalidade de ações, em favor de um real desenvolvimento, impõe compromissos com os desafios ditados por um novo mundo. No atual contexto de validação dos preceitos da sustentabilidade, como é o caso do impacto gerado pelos extremos climáticos, dosar desenvolvimento com preservação do ecossistema representa uma questão vital.
Por sua vez, a pouca confiança dada aos produtos culturais postos no cesto de vendas turísticas, parece-me uma incongruência que não cabe mais ser considerada. A cultura tem sua dimensão de público já comprovada com resultados. Basta que se vejam os exemplos de cidades europeias e a vizinha Buenos Aires. Todas recebem bem mais visitantes estrangeiros que o próprio Brasil. Portanto essa agregação do valor cultural ao marketing turístico é questão de vontade pública e privada, planejamento, organização e foco. Nessa revisão, o turista estrangeiro se encantará também com nossa riqueza e diversidade. Daí, valem dois efeitos econômicos: a) o próprio mérito do papel exercido pela cadeia produtiva da cultura; e b) a amplitude dos resultados derivados do padrão de renda de turistas que consomem bens culturais.
Apesar do atraso, parece-me oportuno repensar o modelo do marketing turístico no Brasil.