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Agenda econômica externa e diplomacia negacionista

Ilustração: Greg / Editoria de Artes / Folha de Pernambuco

Em pleno século XXI, assistimos pelo mundo a ensaios cênicos de retrocesso nas relações exteriores. Em larga medida, isso se deveu ao fato da profusão de idéias, cujas posturas políticas pela defesa hegemônica do nacionalismo foram usadas ao nível mais extremo possível. Ou melhor, diria que essas ações impuseram uma variante dos movimentos autodefinidos como "anti-establishment", que insistem em negar uma ordem econômica mundial pré-estabelecida, ajustada pelo multilateralismo entre nações.

Ideologias à parte, ainda se tem em voga nas relações externas um modelo político, diplomático e econômico de razoável integração entre as nações. Em particular, o Brasil sempre foi capaz de exercer essas atividades com todo mérito, valorizadas que foram pelos seus pares, aqui dentro e lá fora. Assim, os sensatos ensinamentos do Barão de Rio Branco fizeram ao pé da letra uma escola, que tem transcedido as competentes gerações de diplomatas e técnicos do nosso respeitado Itamaraty.

Não bastasse esse contexto e a importância que o grau de abertura das relações internacionais  representa hoje para a economia brasileira, infelizmente, a condução da política externa tem sido um mal exemplo. O "monopólio da opinião" exercido por uma minoria de acólitos, fervorosos seguidores daquelas ideias extremas, não só tem representado algo pavoroso pelo isolacionismo em si. É que a manutenção dessa postura conflituosa, certamente trará outras graves consequências para nossa economia. Isso sem falar nos problemas sociais, decorrentes da extensão da pandemia e, por conseguinte, da falta de vacinas na quantidade necessária.

De fato, essa política não demonstra insatisfação com a condição de pária internacional, tese já assumida pelo governo. Só que o pior dessa aposta é não avançar, na urgência das vacinas, apesar do histórico descompasso do governo no combate à pandemia. Sem habilidade na condução diplomática (com a India) e política (com a China), parece até que a iminência de um eventual fracasso não traria qualquer efeito sobre a economia. É como se houvesse uma dessintonia entre a política externa e a economia. Entre a segurança da imunização e o efeito psicológico sobre os mercados.

A propósito do trato diplomático com a Índia o assunto parece ser administrável, desde que o Brasil revalorize a relevância estratégica do BRICS e repactue alguns acordos de interesse da indústria farmacêutica indiana. Daí, segue o jogo.

Acontece que o caso da China tem maior complexidade, porque há uma sinofobia politicamente inoportuna e economicamente inconsequente. O silêncio da China serviu para considerarmos sua tolerância diplomática, apesar do nosso sinal contrário diante dos conflitos comerciais que teve com os EUA. Essa cautela oriental faz todo sentido, o que explica sua postura de distinguir política de comercial. No máximo, houve uma "indisposição" por agilizar as demandas brasileiras. E se nada mudar, essa frieza diplomática nos exigirá provas de paciência. Daí, o jogo é duro.

Só que a nossa imunização, atrasada pelo erro crasso de planejamento, não suportará mais deslizes. E se ainda vier a proibição da Huawei no leilão do 5G, o quadro poderá  ficar mais difícil.

Alguns aspectos adicionais desses efeitos econômicos, tratarei na próxima coluna.

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