As Mudanças Atuam como uma Lei Implacável da Vida Cotidiana
Algumas Lições Recentes que Fazem Revisar Conceitos Econômicos
A cada novo dia, vejo a vida acontecer pela intenção de alguma mudança desejável. O ritmo da sobrevivência parece ser mesmo ditado pela capacidade dada em se ajustar às mudanças. Nem sempre os resultados alcançados derivam de situações imediatistas, do tipo ser o mais forte ou o mais inteligente, nos atos cotidianos da vida.
Por razões assim, quando costumo enfatizar meu respeito às situações que derivam de um simples passar do tempo, trago comigo uma dose de consideração naquilo que posso fazer para me adaptar às mudanças. Nem mesmo quando a essência tratada possa transmitir alguma ideia que pareça firme e até inabalável. Adaptar-se às circunstâncias do soberano tempo é regra basilar.Pois, como dizia o Barão da Itararé: "pior que mudar de ideia é não ter alguma para mudar".
Nessa maneira de encarar um mundo tão dinâmico, não me surpreende o imobilismo de setores da sociedade, diante do inevitável ofício transformador. É evidente que o eixo transmissor de todo efeito mutante também atinge em cheio conceitos econômicos, por mais rígidos que sejam, no seu viés ideológico. Em muitas ocasiões, não há rigor de doutrina que jamais possa se curvar aos vereditos do tempo. A ocasião costuma fazer aquele tipo de mudança não imaginada. Para ir à essência desses argumentos, faço com brevidade um mero panorama de situações recentes, que mostram o quanto algumas mudanças estão agora a olhos vistos, diante da realidade socioeconômica que se projeta a partir de agora, no cenário nacional.
Que tal começar por uma questão estrutural, que ainda não foi sequer assimilada como um princípio vital do planejamento público? Refiro-me à oportunidade do bônus demográfico, algo de suma importância, mas que se mantém como tema desprezado pelas políticas públicas? O tamanho dessa negligência pode ser medido pela ausência histórica de um planejamento governamental consistente, que trata elementos como a educação e a formação de capital humano como retóricas discursivas. Enquanto o tempo foi passando, pessoas envelhecendo e a economia passando a girar na dependência de jovens economicamente ativos, as oportunidades pelas mudanças foram postas no turbilhão dos desperdícios. Um tipo de descompromisso com a mudança que, ao ignorar a urgência dada pelos padrões atuais de produtividade, renova-se toda uma preocupação com o desenvolvimento.
Outro breve exemplo, agora de efeito conjuntural, pode ser visto pela resistência recente, por parte das autoridades monetárias, de saírem do rigor das suas convicções, para cederem minimamente num recuo da taxa de juros. Não digo isso como algo estimulante à condição de guardiã, que se releva ao Banco Central, enquanto responsável pela política monetária. Aqui, faço apenas referência aos meros sinais de mudanças, oriundos da melhoria dos ambientes econômicos. Da calmaria externa às evidências dos esforços governamentais pelo controle fiscal, entendo que essas mudanças - elas, de novo - precisavam desse entendimento.
E ainda teve mais. Pois a preocupação maior com a insegurança de algum rompante inflacionário, acabou por ser desmentida por uma inesperada confirmação de deflação, senão imprevista, sequer estimada com riscos de que estava por acontecer, no curtíssimo prazo.
É isso. Tempos que mudam e afetam conceitos e previsões. A economia não veste o figurino da ciência exata.