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Assombrações de um Brasil Indesejado

O Pesadelo da Memória Inflacionria: Entre o Risco Fiscal e o Isolamento da Equipe Econômica

Alfredo Bertini - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

O ex-governador gaúcho Germano Rigotto é uma dessas raras figuras políticas afirmativas, que exala sua competência, justo por dar à devida importância para todas informações técnicas. Por mais incrível que possa parecer, é dele de quem logo cedo acesso os dados da conjuntura econômica. Vale dizer que ele próprio é quem faz a compilação de jornais, revistas, notas técnicas e comentários, que ele envia para um grupo seleto de amigos e profissionais. Não só me sinto honrado por compor seu "mailing", como aqui confesso a importância de ter logo cedo esse denso material, sobretudo, pelo viés econômico que lhe caracteriza.

Nesse particular, destaco que no material de ontem, fiz minha leitura e análise trivial dos fatos descritos pelo material enviado por Rigotto, de tal modo que consegui extrair uma certa unanimidade que ainda paira no ar, em dose dupla: a preocupação com o risco fiscal e o gradual isolamento do Ministro Haddad. 

De fato, a configuração desse quadro me faz reviver aqueles contos assustadores de fantasmas. Num plágio discreto associado ao título  de uma obra "freyreana", denominada de "Assombrações do Recife Velho", sinto-me sob a ameaça - não menos assustadora - de reviver as "Assombrações de um Brasil Indesejado". Uma situação que por parecer comum, cria um ambiente intimidatório, suficiente para fazer dessas palavras uma escrita sob o risco desejado de vê-la como obra: livro, roteiro de um documentário ou algo que assim o valha.

Não é só pelo fato de uma geração, talvez não saber e sequer ter sentido, o real significado de uma inflação. De fato, a simples evidência de uma memória inflacionária, mexe com quem lida com cotidiano da economia, de acadêmicos a agentes que operam nos distintos mercados. Essa constatação que torna sagrada a preservação da moeda, já fez até velhos críticos do controles fiscal e monetário, refazerem seus discursos ou práticas políticas. Daquela antiga crença de que não há limites para se gastar recursos públicos e até se promover a estupidez da emissão de moeda, passaram a defender um estágio de moderação. Isso tudo com a ciência de que a política social tem sua prioridade, mas impõe às suas despesas um padrão de limites. 

Infelizmente, na atual conjuntura, os sobressaltos políticos dados pelas simples manifestações de que o pedal do freio para os gastos parece inexistir, parecem traduzir efeitos que trazem à tona a tal memória inflacionária. Põe-se nesse tempero insosso uma pitada amarga na forma de uma percepção de isolamento do Ministro Haddad e, por conseguinte, os demais integrantes da equipe econômica.  Este núcleo dá sinais de preocupações fiscais e monetárias. O núcleo político insiste em gastar, por acreditar que o crescimento desejado trará uma ampliação de receitas. Por enquanto, os sobressaltos só servem para instabilizar o câmbio e desfavorecer as expectativas.

A propósito, nos próximos textos, tratarei dos 30 anos do Plano Real. Por respeito à moeda, essa foi a maior reforma da História. Exemplo de apagão da memória inflacionária.

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