Assombrações, tubarões e culturas: como inovar na política de turismo do Recife (II)
A importância de rever estratégias, em nome de um marketing criativo (II)
No texto anterior, que compôs a coluna excepcionalmente veiculada na quinta-feira, tratei de mostrar alguns planos que nortearam minhas ações, em passagens que exerci no setor di turismo. Contar com a melhoria na qualidade dos serviços prestados e contribuir com formulações criativas de marketing, para efeito de venda, sobretudo, do destino Recife foram boas obsessões.
Como antecipei, inspirei-me na renovação de ideias com uma equipe jovem que mobilizei e, em especial, em duas obras do Mestre de Apipucos (Gilberto Freyre), que mostravam sia visão de futuro, dados os valores antropológicos e identitários da formação recifense.
O que destaco aqui como ideias renovadoras à epoca, bem que cabe ainda para o contexto atual, tamanho é o descrédito que as políticas públicas têm reservado ao turismo. Neste ponto, apoio-me na importância de ações públicas, que induzam o setor privado a oferecer qualidade aos turistas. Como qualquer defesa pela iniciativa da educação neste país, parece exigir doses de uma boa obsessão, não consigo entender tanta inércia para buscar esse objetivo. Ou seja, a decisão privada pelo treinamento profissional deve contar com uma indução permanente do setor público. Isso não pode ser exemplo de ações pontuais, lois precisa ser programas definitivos e estruturantes. No final das contas, é preciso considerar que o turista mal-atendido é um agente de risco, capaz de anular a melhor das estratégias de marketing.
E por falar no marketing turístico, é preciso insistir na tese de que a simples presença em feiras e eventos correlatos não correspondem ao melhor instrumento de vendas. Por melhor que seja essa participação, a racionalidade por atrair os turistas estará sempre associada a uma capacidade de sedução, que se atrela aos seguintes pontos: i) se a presença se dá no ambiente de negócios apropriado, onde a conquista do turista possa ser real (exemplo: por que se fazer presente a uma feira do outro lado do mundo, onde não há facilidades de voos e daí nem tempo suficiente para cumprir uma agenda turística no destino?); ii) é preciso exercer uma venda que fidelize esse cliente especial chamado turista, ciente de que o que lhe é oferecido tem algum padrão de qualidade; iii) que um aspecto diferenciador e de efeito humano está na capacidade de mostrar a cultura local, o valor identitário do destino, não apenas os recursos naturais (como o viés exclusivo do sol e do mar); e, iv) que o destino consiga mostrar, por meio de um marketing mais criativo, outros meios de atração.
Nesse último ponto, foi que a "influência freyreana" me atingiu em cheio. De cara, as obras "Guia Prático" e "Açúcar", revelaram para mim valores humanos de uma fortíssima identidade local, que poder-me-ia sugerir algo novo, além do trivial. Foi daí meu interesse em fortalecer a diversidade cultural como atrativo, num primeiro plano, através da relevância de um guia histórico que revelasse a força do destino, trazendo como uma enfase agregadora os aspectos de uma gastronomia diferenciada. Num segundo plano dessa percepcão dos valoresculturais, a obra "Assombrações" trazia um simbolusmo inusitado, onde a criatividade estava em sinalizar para roteiros que fossem capazes de "vender" o Recife também pelas siassuas histórias assombradas.
Neste aspecto, nossa propria secretaria de turismo ensaiou tais roteiros, de forma teatral. Fomos materia nacionais de TV e capas de jornais. A indução pública de apontar para um entre outros caminhos criativos foi dada. Pena que as compreensões e os interesses privados de fazerem dessa ação um negócio alternativo não prosperaram.
E, assim, continuamos na aposta de que os recursos naturais, por si sós, são mesmo a solução da questão turística, mesmo que os números sejam os mesmos de duas a três décadas atrás.