Cenários gerais do pós-pandemia
Apesar das incertezas e, no caso brasileiro, da dimensão maior dessa crise, por consequência da falta de uma estratégia de combate planejada e articulada, nada melhor do que começar a análise econômica proposta pela coluna com o olhar no futuro. Alguns cenários são razoavelmente perceptíveis, de modo que podem aqui serem pontuados.
De fato, muito do que possa ser destacado como mudanças efetivas não se constitui em grandes novidades, justamente porque essas iniciativas já estavam em práticas discretas. No entanto, isso não retira o mérito, observado durante a pandemia. Assim, esse contexto revelou aquelas tendências de mudanças, capazes de darem o sentido econômico.
Aspectos setoriais à parte, trato aqui de algumas constatações de vieses socioeconômicos, de natureza micro e macro. São questões evidentes, cujas respostas precisas só o tempo dirá. No plano micro, algumas questões básicas destacadas durante a crise e que geram reflexões pertinentes estão abaixo alinhadas.
1) Qual o impacto econômico dos efeitos do "home office"?
2) No curto e longo prazos, como a economia é afetada com a realidade crescente do "ensino à distância"?
3) Como a adequação técnica para o mundo virtual impactará nos negócios derivados dos eventos congressuais e culturais, bem como, no segmento das feiras?
4) A realidade da pandemia fará da Saúde uma prioridade maior em termos de investimentos públicos e privados?
5) Quais as lições dessa pandemia, com relação a uma linha complementar de investimentos em saneamento, habitação popular, urbanização e transporte público?
6) Dadas as condições de desigualdade social, agregadas aos "novos pobres" gerados pela pandemia, até que ponto o Estado suporta a ampliação da sua política social?
7) Como ajustar a política externa, em tempos de revisão nos conceitos mais amplos de globalização e na necessidade de desenvolver a indústria nacional de produtos estratégicos?
Para essas questões micros, o debate ainda se projeta, no mínimo, para duas questões de ordem macro e que absorvem todos os temas aqui expostos: Globalismo ou Nacionalismo? Estado liberal ou keynesiano? Velhos dilemas na ordem do dia.
Com base nesses pontos, os próximos textos trarão minha contribuição ao debate. Enquanto a gente simula os cenários futuros, cabem agora algumas notas sobre a atual conjuntura da nossa Economia. Na medida do possível, também estarei atento a esses nuances.
NOTAS
JUROS > Confirmando as expectativas, o Copom manteve a tendência de baixa nos juros. A redução de 0,25 pontos percentuais estabilizou a taxa no patamar dos 2%. Pela leitura da inflação estável e em baixa, há margem ainda para queda nos juros, apesar da instabilidade fiscal e cambial.
DESEMPREGO > Por sua vez, o IBGE anunciou um aumento em junho na taxa de desemprego, que atingiu 13,3%. Em 3 meses de pandemia foram perdidos cerca de 9 milhões de postos de trabalho, com o número de ocupados atingindo o menor nível da série histórica (dados PNAD).