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Cenas de ilusão na economia: os protagonismos do câmbio e do PIB

"Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos".

(Fernando Pessoa, o mais universal poeta português)


Que bom seria que a realidade não fosse uma ilusão e que daí a gente pudesse sonhar com projetos palpáveis, onde a pesquisa e a ciência fossem o epicentro das tomadas de decisões.

Como já expressei aqui noutras oportunidades, advogo a tese de uma utopia realista, à moda do que prescreveu o historiador holandês Rutger Bregman, na sua intenção de construir um modelo de mundo melhor. Ou mesmo, outra defesa que aqui já fiz por um utopia tropical brasileira, que se inspire nos diferentes valores étnico-culturais, esta à moda do colega economista e filósofo Eduardo Giannetti. Sonhos fundamentados, com consistência teórica e consciência pragmática.

Nessa forma de pensar, naquilo que concerne à política econômica, tão ou mais importante que seguir uma linha de pensamento é saber planejá-lo e daí buscar um pragmatismo operacional que envolva capacidade de execução, conhecimento da máquina pública e muita disposição para fazer engenharia política. Se houver fracasso em apenas um alicerce desse tripé, isso poderá gerar resultados que não  serão capazes de sinalizar para níveis de estabilidade e sustentabilidade. Isso significa dizer que alguns resultados que se apresentem como favoráveis poderão ser meramente eventuais, porque não trazem no seu contexto nutrição necessária para garantirem sua firmeza.

Claro que todo bom resultado econômico pode(e deve) ser digno do seu mérito. Mas, as aparências também trazem aquelas armadilhas que expliquei acima. Nesse sentido, preciso aqui comentar o que está por trás dos bons indicadores do PIB e o que significa, de fato, essa melhora recente do câmbio.

O primeiro ponto que merece atenção é realçar que não houve qualquer ação planejada de política econômica para que o PIB apresente crescimento sustentável.  Ademais, a tendência de queda no câmbio, independente desse mercado atuar sem interferências governamentais diretas, revela na sua essência justificativas nada tão alvissareiras. 

Sobre o PIB, de imediato, vale dizer que há uma demanda reprimida pela pandemia que dará respaldo a uma capacidade ociosa, pelo menos igual ao do momento anterior à crise. Certamente, um impulso de recuperação virá dessa euforia, cujo momento será o do "pós-vacina". Ademais, a realidade externa se revela amplamente favorável, não só pelo efeito da euforia em si, mas pela própria consistência das políticas de muitos dos parceiros comerciais. Nesse aspecto, o exemplo mais notório está no setor do agronegócio, mesmo que seu impacto em termos de participação de PIB e geração de empregos não seja o mais expressivo da nossa economia. Ou seja, o impulso de demanda que virá com a euforia, seja de dentro e notoriamente de fora, certamente que dará ao PIB um mínimo fôlego natural.

Por outro lado, nada mais ilusório que achar a situação do câmbio como uma provável conquista de algum esforço pela estabilidade econômica. Longe disso. A sustentação de taxas de juros reais baixas e a inflação em escalada crescente, fizeram com que o COPOM revisasse os juros para cima, com tendência de alta para as próximas reuniões. Essa combinação de preços e juros altos revela uma outra realidade macroeconômica, cujos efeitos exigirão dos agentes muita cautela. 

Enfim, percebe-se um cenário onde a realidade da prudência me parece ser bem maior, ao se olhar para as tendências dos indicadores, no médio e longo prazos. Ainda mais, quando não existiu nenhuma ação planejada e o embate em torno das reformas se manteve inalterado no Congresso Nacional.

Aproveitando-me de um axioma freudiano, "a ciência econômica não é uma ilusão, embora seja ilusório acreditar que se pode ter noutros ambientes aquilo que ela não pode dar.

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