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Como fica a agenda econômica para a 'Era Biden'?

Joe Biden, presidente-eleito dos Estados Unidos - Angela Weiss/AFP

Na coluna anterior, expus numa das notas os sinais econômicos que a vitória do democrata Joe Biden passa a representar para o mundo. Mais que colocar genericamente os pressupostos de uma política externa com menores riscos de sobressaltos, também expressei minha preocupação com o silêncio da diplomacia brasileira. Uma situação  lamentável, em se tratando de um inoportunismo onde o governante se sobrepõe aos interesses do Estado.

De fato, a evidência do governo Biden já trouxe à tona os primeiros efeitos positivos das expectativas vistas pelo mundo. Aqui no Brasil, a reação do câmbio e das bolsas foi bem favorável.  E apesar da heterogeneidade nos resultados intrassetoriais, as projeções de curto prazo para desempenho do PIB não têm sido desastrosas. No entanto, o que se vislumbra para esse bimestre final, sobretudo para o ano de 2021, são indicativos de incertezas.

Separe-se o joio do trigo. Os resultados conjunturais desses últimos dias na economia brasileira são bem mais consequência de certos comportamentos setoriais e das alvíssaras   advindas do mercado externo. Na verdade, não se observou qualquer influência balizadora da política econômica. Pelo contrário, os desencontros e embates políticos, sobretudo, no que tange aos aspectos fiscais, têm-se arrastado de um modo infrutífero, sem sinais seguros de reversão da incerteza e volatilidade que prevalecem no ambiente econômico. 

Nesse episódio da "onda Biden", a nossa postura diplomática de negar pelo silêncio traz ainda mais preocupações e pode ser prejudicial à economia. Saber reconhecer a vitória eleitoral de qualquer governante, de um país que possui um histórico de parcerias, é mais do que um ato natural. Representa um esforço de consolidação, que mesmo numa divergência política, traduz-se pela capacidade de negociar em favor dos interesses comuns. Portanto, embargos políticos ou comerciais não se mostram pertinentes quando postos de alguma forma sobre a mesa. Atitudes como essas só servem para negar os ganhos bilaterais conseguidos por meio das trocas internacionais. O isolacionismo nacionalista não parece uma opção sustentável e inteligente para qualquer economia que busque o crescimento.

Numa situação como essa, onde já se tem governante eleito e se sabe do perfil técnico do Governo, exercícios pessoais que afrontam o interesse do Estado, só servem para engessar ainda mais uma economia que se mostra emperrada. A equipe econômica já deveria ter alertado o Itamaraty sobre os riscos dessa postura, que podem gerar mais desconfianças do mercado externo sobre o Brasil. Assim, entre conflitos ideológicos e silêncios descabidos, forma-se um conceito que, lamentavelmente, ganha proporção: o de reconhecer o Brasil no melancólico time dos párias mundiais. Sem a cooperação e os investimentos de organismos e instituições.

Vale lembrar que um tema que pautará as discussões de um modo mais revigorado será a política ambiental. Uma prioridade de Biden que já impõe à diplomacia brasileira uma condição restritiva, se a reação interna se mantiver na linha confrontacionista. Essa é uma questão que certamente trará um enorme desafio econômico, por envolver hoje decisões pesadas de investimentos diretos tão necessários ao Brasil.

Cabe agora à nossa diplomacia que se "invente uma verdade", que vá além da limitação ideológica que dá verniz ao Governo.

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