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Do sucesso nominável ao lapso do anonimato: o improviso não é obra do acaso

A ausência de planos e o abandono do álcool na matriz energética

Atribui-se ao genial conterrâneo Nélson Rodrigues uma frase lapidar, cabível ao atual momento econômico do país: "subdesenvolvimento não se improvisa porque é obra de séculos". A falta recente de planos estratégicos e sustentáveis, para efeito dos novos desafios que se impõem sobre o desenvolvimento socioeconômico, representa um exercício cabal da capacidade de improviso que hoje faz parte do DNA brasileiro. 

Com essa ordem de grandeza em evidência, reporto-me às minúcias da asfixia que vez por outra toma de sobressalto a matriz energética nacional. Mesmo diante de fontes alternativas mais "limpas" e passíveis de serem planejadas e executadas, o improviso circunstancial vale mais do que pesa. Isso só consagra um raquitismo crônico, justo quando o assunto é investir na renovação e na inovação de uma matriz energética já superada. 

A maior das contradições que reforça o efeito do improviso está no destino do uso do álcool carburante - o etanol. Penso que, neste caso, torna-se indefensável a tese de que o "acaso irá nos proteger, enquanto a gente se mantiver distraído", conforme ps versos da canção "Epitáfio", do grupo Titãs. Afinal, as crises econômicas se comportam como fenômenos cíclicos, suficientes para entendê-los como indicadores de compromissos com ações estratégicas. De fato, que fossem criadas as condições de se enfrentar não só o desafio inconstante da escassez de petróleo. Mas, dispensá-lo gradualmente, enquanto fonte não renovável e agressora ambiental. Condições para isso existem e estão ao alcance. É querer fazer.

E já não foi fato que o Brasil encarou esse desafio e foi exemplo comportamental perante seus pares no mundo? Mas, como o improviso está bem impregnado, o sucesso pode até chegar, mas se desmancha rapidanente ao bel sabor dos ventos (que deveriam ser mais inspiradores para gerar energia). 

Nesse embalo, cabe dizer que a história do PROALCOOL foi bem isso. E, agora, quando toda iminência de colapso energético poderia ser absorvido, em parte, pela nossa experiência com o etanol, o improviso assumiu seu protagonismo. Aliás, do nascimento circunstancial do programa, lá nos anos 70, passando pelo desapego político e o despreparo atual, tudo representa bem esse esporte nacional: o "improviso escolarizado".

Foi fato real que o início do PROALCOOL derivou de felizes coincidências que se completaram àquela época. O primeiro passo foi consequência do aumento do plantio da cana, dado por uma alta estimulante nos preços do açúcar (início dos anos 70). Tal estímulo se deparou com o primeiro choque no preço do petróleo (1973), coincidência que levou o país a buscar alternativas com o uso do álcool. Seja pela expansão do plantio da cana, como pelo bom momento do setor sucroalcooleiro, com o surgimento de novas usinas e destilarias. Para o desafio daquele momento, o plano foi estratégico, deu certo e ainda se revelou sustentável. Afinal, o etanol não só serviu de mistura para os motores à base de gasolina, como atuou no modo de combustível padrão.  Uma inovação que foi exemplo mundial.

O danado é que os planos e programas deste país são vulneráveis ao descrédito e tudo ainda se faz como se não houvesse qualquer ameaça no amanhã. Assim, o verbo que mais se conjuga nos entes públicos é "descontinuar". Se o problema pegar, a gente sabe como improvisar. É da "cultura".

E agora? Taí, de novo, o velho problema da asfixia externa, sempre a favor da elevação no preço do barril do petróleo. Alinhada a esse efeito exógeno, a PETROBRAS fica sem saída técnica. Ademais, pouco ou nada foi articulado para se definir um fundo anticíclico, que sirva de amortecedor de crises. E, por fim, a politica de apoio ao álcool foi descontinuada. Aliás, do jeito que esse modelo funciona, a alta da gasolina e do diesel, ali na bomba da esquina, termina por puxar o preço do etanol. 

E como o improviso se faz por emendas esfarrapadas que só pioram a costura, que venha a impropriedade de subsídios segregadores. Se não fosse tudo tão real, bem que apostaria na força da piada.

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