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Duas Tragédias num Mês Só

A Economia Também não Tolera Tragédias Socioambientais

Não posso passar incólume e ainda exercer minha miopia diante da tragédia sociocultural que aflige a nação Yanomami. Se não bastasse que, este janeiro de 2023, já esteja maculado pela tragédia política daquela tentativa burlesca de golpe contra a democracia, o país encerrou o mês com outro momento não menos trágico e vergonhoso. Por mais que haja quem queira minimizar os dois fatos, a dura consequência dessas ocorrências, vista pelos olhares isentos do mundo, já prediz que a História não perdoará tamanhas barbáries.  Com tudo isso, fica evidente que a economia termina por absorver a gravidade de tais fatos, por mais frigidos que sejam os agentes dos mercados.

 

Claro que muitos aspectos políticos, socioculturais, ambientais e outros afins de efeitos correlatos terminam por ser variáveis significarivas, ao se incorporar as expectativas em quaisquer análises econômicas. De fato,  Inúmeros estudos e pesquisas comprovam    o quanto o grau das incertezas afeta os riscos ou retornos de diferentes ambientes econômicos. Toda uma imagem de segurança (ou não) é então construída, local ou internacionalmente, conforme o nível de vacilo em os países se submetem, por falta ou falha nas suas decisões. 

 

É difícil assimilar, mas a tragédia anunciada com os Yanomamis é bem um exemplo doloroso da falta de compromisso público. Se o histórico já tinha alguns sinais preocupantes, antes mesmo de 2019, no período do governo recém encerrado, toda tragédia foi construída   sob pilares de conceitos e ideologias, que destruíram a expressão civilizatória dos povos originários. A invisibilidade cidadã submetida aos indígenas nem costuma ser um preconceito tão corriqueiro como outros tantos. Afinal, ao seu distanciamento físico natural, soma-se o absurdo de teses que pregam o extermínio cultural e racial. E tudo  isso muito bem "embalado" por atividades econômicas ilegais e deletérias, agressoras do meio-ambiente. Nesse estágio de ignorância que põe os indígenas na invisibilidade, há até quem acredite que eles sequer existam ou devam existir. É quando o inconsciente coletivo transforma o negacionismo ideológico num extermínio planejado.

 

As cenas da tragédia são comoventes, embora não sirvam bem para isso, quando o fervor ideológico segue tratando com um desdém supremacista. Ao preconceito estrutural que submete os povos indígenas ao ostracismo, um vigor econômico agressor, que avança fora dos ditames, seja na preservação como na sustentabilidade. Aos Yanomamis restam o fio da esperança de um outro olhar da sociedade, justo para quem se mostre sensível à reversão desse contexto exterminador.

 

O mundo que hoje faz coro crítico às nossas barbáries, avançou contra a sustentação do velho retrocesso. Nesse sentido, foi muito bem recebida a retomada dos fundos comprometidos com a preservação da Amazônia. O negacionismo anterior foi estancado e os primeiros indícios de retomada do fluxo, anunciados pela Alemanha, chegam em boa hora. Mesmo que ainda sejam destinados para uma situação tão absurda.

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