E Agora, Paulo?
O Banal "José" dos Versos de Drumond e o Poderoso "Paulo" dos Reversos da Economia
E agora, Paulo?
O modelo acabou,
a ideia apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Paulo?
E agora, você?
você que fez seu nome,
mas zombou dos pobres,
você que fez promessas,
que reclama, protesta?
e agora, Paulo?
Está sem time,
está sem discurso,
está sem apoio,
já não pode perder,
já não pode sonhar,
articular já não pode.
Porque a noite esfriou,
o dia não veio,
a gasolina subiu,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo parou,
e agora, Paulo?
Com a chave na mão
quis abrir portas.
Mas, não existem mais portas.
Pensou em sair do planalto,
porque seu recanto se esvaziou;
E nem deu pra pensar no Rio,
porque o seu velho Rio não há mais.
Paulo, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
uma economia mais conveniente,
se você insistisse,
mesmo que você cansasse,
se você revisasse...as reformas viriam.
Mas você não planeja,
não insiste e nem revisa,
você é duro, Paulo!
Sozinho nesse escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, Paulo!
Paulo, para onde?
Obrigado ao poeta lá de Itabira, Carlos Drumond de Andrade, pelo primor do seu poema "José", escrito em 1942, São versos e letras que me inspiraram hoje nesta adaptação fiel. Qualquer semelhança não é coincidência. Só exerci em cópia assumida, um simples esforço de adaptação. Ou seja, traduzi o respeito intelectual que tenho pelo poeta, num ensaio demonstrativo que expressasse toda decepção pelo comando dos rumos econômicos do Brasil. Os resultados após 3/4 de governo falam por si.
Assim como o cidadão José do poema, o todo poderoso Paulo Guedes da Economia parece também demonstrar agira o sentimento de solidão e abandono, diante da instabilidade econômica. A sensação é de quem se encontra perdido e sem saber mais qual caminho a seguir. Igual a José.
Assim, renovo a tese de que a literatura pode tornar teoria econômica mais palatável. E, por conseguinte, seus condutores menos sisudos nos tratos e mais populares nos atos.