Economia bombando? Conta outra...
Vivemos sob o risco de não enxergarmos país nenhum
Não bastasse o fato da polarização em si dispensar discussões programáticas, justo para trazer à histeria temas dispensáveis e estéreis, a fragmentada nação brasileira ainda tem que se contentar com conversas fiadas sobre a economia. É aquela sensação de euforia de quem vê uma miragem no deserto e depois constata que aquele oásis está além do que os olhos vêem.
Tomo como referência ajustada para essa minha mera análise o titulo de uma obra premiada de Ignácio de Loyola Brandão, chamada "Não Verás País Nenhum", de 1981. De fato, para um contexto atual que foge do roteiro daquele ilustre autor, aproprio-me apenas do titulo e daí revelo que também "não consigo enxergar país nenhum". Por tudo que de improvável tem acontecido, como de provável tem-se esquecido. Um horror.
Ouso agora misturar Tom Jobim e Nelson Rodrigues ao dizer que este pais, que não é para "principiantes", termina por assistir a conquista prevalente dos "idiotas". Nada pela capacidade de se fazer algo diferente do que se assiste, na forma de estupidez e brutalidade. Tudo pela quantidade de se fazer algo igual do que se assiste, na forma de engano e mentira. A autocracia do populismo idiota está eatabelecida.
Vou direto ao assunto. Admito entender que qualquer governo se entusiasme na defesa de resultados econômicos favoráveis, por mais frágeis ou conjunturais que sejam. No entanto, fazer disso uma promessa política que se projete para a sociedade como sólida e consistente...conta outra, por favor. Ou seja, números só servem aqueles que possam ser úteis para o propósito político. Do contrário, por mais consistente ou não que seja a metodologia, a melhor e verdadeira é sempre aquela que convém. Não importa se depois das eleições, a cena política seja outra e o estrutural ameace o conjuntural.
Percebo que no cotidiano do tal ex-posto que manda na economia, o que serve para ser exposto é tudo aquilo que caiba bem no "manequim político" de uma dura e complexa realidade econômica. Esta sim, despida diante das incertezas dos mercados estressados e dos fracassos sociais evidentes.
Sejam os números internos do Banco Central ou do IBGE. Sejam de fora, como os recentes do FMI. O que vale sustentar é a falsa ilusão do que se extrai de bom de cada fonte dessa. Exemplo: revisar para cima o crescimento do PIB deste ano, vale; mas, quando a previsão fica a menor para o próximo ano, vale o deboche afiado. Não adianta falar que certos indicadores têm essências estruturais não tão favoráveis. Que o desemprego dito como melhorado é conjuntural e se dá em cima de trabalhadores formalizados. Afinal, o lado estrutural do desalento e da informalidade é abandonado. Pior: que mais de 80% das familias estão endividadas. Ademais, que a inflação "controlada" se deve ao intervencionismo provisório sobre os preços dos combustíveis. Enfim, que sucesso econômico é esse? Isso é estruturante?
Nessa verve tagarela de se duzer que a "nossa economia está bombando", atrevo-me a dizer: conta outra, por favor. O Brasil é bem maior que isso.