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Economia em 3D e política em 2G: sem utopias e éticas

Ilustração: Hugo Carvalho / Folha de Pernambuco

Amanhã as 16h, no canal do Cine PE no YouTube, inicio uma série de conversas com intelectuais, empresários e professores, para debater os valores que influenciarão na decisão de empreender, diante desse ambiente de crise. 

Meu primeiro convidado dispensa grandes apresentações: o economista, filósofo, professor e escritor Eduardo Giannetti. Um nome absolutamente conhecedor da nossa economia, capaz ainda de agregar às suas análises o peculiar domínio sobre outras ciências, como a filosofia, a sociologia e a literatura. Giannetti é um raro pensador de múltiplas visões, que foca seu ofício em soluções para problemas, sem se ater aos pragmatismos de uma área apenas do conhecimento.

O debate com o ilustre convidado de amanhã fez-me refletir sobre o tema de hoje da coluna. Assim, na sua preparação, minha ideia foi focada num breve extrato, que tangenciasse o cenário brasileiro de hoje, inspirado no pensamento transversal de Giannetti.

Imagino que não seja algo exagerado fazer tal exercício. Digo isso, porque revelo aqui toda uma convergência de pensamentos, entre o que tenho defendido, vis-à-vis o que Giannetti tem escrito e dito, repetidas vezes. Ademais, nesta análise, procuro dar o contraste temporal, no que tange à atualidade dos problemas econômicos (no nível avançado do 3 D) e à lentidão das respostas políticas (no nível passado do 2 G).

De fato, a sinergia de opiniões sobre o quadro econômico está centrada no diagnóstico 3 D, não só pela ordem de grandeza dos problemas, como pelo fato deles serem grafados com a mesma letra inicial, a saber: deficit (fiscal), desemprego e desigualdade. Ou seja, as preocupações de Giannetti quanto à situação da economia brasileira têm de mim o endosso. Não há como se dissociar da urgência de se encarar o déficit fiscal como um problema grave - e de dificil solução. Isso num País onde 40% do PIB gira na órbita pública, cujos gastos se manterão pressionados em 2021 pela extensão da pandemia. Por sua vez, o desemprego é outra variável preocupante por se projetar em ritmo de alta, pelo menos no primeiro trimestre do ano. Por fim, o drama maior de toda esse problemática social, que em consequência se exprime como um avanço na desigualdade, a face mais vergonhosa da sociedade brasileira.

Na lerdeza das respostas políticas, que na minha retórica ainda se abraça com o velho mundo 2 G, a representação se expande para o "G" de Governo e o "G" de Giges. Explico. O primeiro, pelos desencontros e conflitos  políticos, que no bojo da extravagâncias de ideologias prejudiciais, deixam-no inerte, sem respostas adequadas para os problemas. O segundo, em sintonia com o último livro de Giannetti (O Anel de Giges), pela proeminência de uma ética política questionável, que se move pelas próprias  contradições dos exercícios públicos, independente da proposição do autor de se "por o anel" nos dedos da classe política. Para melhor entendimento, a leitura do livro dará  maiores explicações.

O importante a registrar, dado ainda esse ambiente sinérgico, é que o quadro ideal corresponde a algo transformador, extraído das lições dessa multicrise potencializada pela pandemia. Tão importante quanto encarar de frente os problemas 3D a resposta  para a sociedade passa por duas linhas. De um lado, a busca por uma utopia tangível padronizada pelo bem-estar, algo construído nos modelos sustentáveis de desenvolvimento, que repeitem a diversidade cultural e o ecossistema. Do outro, a importância pelo auto-conhecimento do padrão ético, cuja validade para o repensar da classe política é vital.

E o que poderá dar consistência à utopia e ética: somente a educação. Sem avanços nesse requisito, o desenvolvimento continuará à deriva, longe do que espera a sociedade. Haja desafio.

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