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Efeitos econômicos da diplomacia negacionista

Ilustração: Hugo Carvalho / Folha de Pernambuco

No texto anterior, procurei evidenciar a histórica relevância do setor externo para a economia brasileira, ultimamente ameaçada por uma postura político-diplomática que nega, com veemência intrigante, os princípios da multilateralidade.

De fato, essa carga ideológica tem proporcionado alguns "terremotos" frequentes, com abalos em áreas bastante sensíveis, como a preservação do meio ambiente. Assim, é cabível avaliar até onde a extensão de uma política ambiental, descompromissada com o desenvolvimento sustentável, poderia ser perniciosa à economia. Certamente, algo que não ajudaria nem mesmo o vetor do agronegócio, assim como, a mobilização de capitais internacionais, esta cada vez mais sintonizada com a pauta ambientalista. 

O episódio de uma pandemia de configuração mundial, profundamente marcada pelo estouro dos sistemas de saúde e pela expressiva mortalidade, seria - em tese - um forte argumento para a revisão dessas posturas de alienação atávica. Nesse sentido, o esforço racional de qualquer diplomacia seria de dar mais musculatura à  cooperação entre as nações. Afinal, a gravidade da crise sanitária em si seria capaz de proporcionar uma transversalidade cooperativa em temas como ciência, pesquisa e estratégias para o enfrentamento do problema. Infelizmente, não houve uma empatia, nem muito menos um plano, que dessem substância à construção de uma genuína política para tamanho problema de saúde pública. Atitude renitente e solitária, bem distinta daquilo que fizeram os demais países.

Assim, os resultados dessa  aposta governamental são puro contrassenso. Por um lado, a contradição de um discurso supostamente econômico, que nega a pandemia, mas sinaliza para que os agentes continuem a atuar livremente, como se ela não existisse. Por outro, quando se tem às mãos a possibilidade da volta à normalidade pela imunização, a desconfiança e o desprezo pelas vacinas ganharam forças incomuns.

Nesse embate estéril (e algumas vezes histérico), o quadro político-diplomático ficou bem mais afetado. Sem plano e sem organização, o Brasil se rende às vacinas, só que no ritmo dos quelônios. Ademais, esquece-se que as vacinas negociadas não darão conta da carência. E pior: não houve prudência na adesão a outros imunizantes. Por fim, registre-se ainda nossa dependência por insumos, 100% ofertados pelos parceiros do BRICS. Síntese implacável: atingiu-se uma situação, na qual tantos erros e omissões inaceitáveis já se tornaram insuportáveis.

Qual é a conclusão que se extrai daí? Bem, se nossa política externa se mantiver inábil diante da evidência de ares favoráveis à perspectiva multilateral, os problemas econômicos serão ampliados. E os efeitos dessa dependência de fora com relação às vacinas trarão mais desgastes. Isso, inexoravelmente, afetará o desempenho socioeconômico para 2021. Leve-se ainda em conta esses cenários: 1) revisão para baixo no PIB (já projetada pelo mercado); 2) demanda social pela desocupação e falta de renda (sem indícios de revalidação do auxílio emergencial); 3) desconfiança externa (com manutenção da queda do fluxo de capitais devido à falta de controle da pandemia); 4) insegurança fiscal (dificuldades para implantação das reformas): e, 5) instabilidade política (pauta de embates desgastantes).

Diante desse quadro, não há mais como dourar a pílula da inabilidade política. Chegou-se à encruzilhada: mudança providente ou caos imprevidente? A escolha paira no ar.

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