Emendado e Desgovernado
Um Poder Executivo Rendido Pelo Seu Próprio Orçamento
Não bastassem tantas particularidades, que fazem da economia brasileira um ambiente complexo pela sua própria dinâmica, ainda pairam no ar entraves políticos que deixam a sociedade atônita e à deriva. De fato, o Brasil é o país de uma Incompletude histórica, que costuma se mover de um jeito repetitivo e enfadonho. Faço jus ao título, por ver e sentir toda uma nação emendada nas suas fraturas e desgovernada em tudo aquilo que deveria ser tratado como planos e propósitos.
Sou do tempo em que se tinha algum gosto por saber, acompanhar e até assistir bons embates políticos em quaisquer ambientes parlamentares. No bojo de ideias e partidos, mesmo que sem largas consistências, as diferenças eram tratadas com equilíbrio disciplinado e sabedoria respeitosa. Hoje, infelizmente, sob o domínio geral de um baixo claro que, na sua maioria, cumpre missões de interesses segmentados, a arte e/ou engenharia para se fazer política com "'p" maiusculo foi colocada de lado. Ou seja, os erros sistêmicos da política, ao invés de serem tratados, internamente, para que daí se fortalecessem os partidos, foram tratados pela sociedade de modo disruptivo. O "não ser politico" como protagonismo do "fazer política" tomou tal volume, que o resultado prevalecente, dentro de espectros ideológicos muitas vezes extremos, está consagrado na formação de "agremiações por interesses".
E para dar maior robustez a esse sistema, uma pitada de "parlamentarismo dissimulado", que ao longo dos últimos exercícios, tem tornado o Poder Executivo refém da apropriação pelo Legislativo, daquilo que representa o seu próprio Orçamento.
O momento político atual está por dizer tudo isso. O desejo ardente por ainda mais poder, via o instrumento fiscal regido pelas emendas, não só causa espanto, a cada mandato governamental. É também de provocar o senso racional diante de tantas contradições. Muitos dos parlamentares que agem como paladinos do controle dos gastos, são os mesmos que querem mais destinações de recursos para suas emendas. Pior: nem sempre com aplicações transparentes e convergências prioritárias. Tamanho é o volume disponibilizado, que mesmo os microefeitos pulverizados das ações paroquiais, não são comparáveis ao impacto do que seriam essas aplicações em projetos maiores e estruturadores.
O danado é que, no descompasso desse impasse político, a conjuntura econômica se desestabiliza. Geram-se inseguranças e incertezas em mercados, já mau humorados. Dá-se ânimo para o catalisador de ondas especulativas, que tomou de assalto esses mercados. Por mais irreal que possam estar o câmbio e os juros projetados.
Riscos preocupantes, bem ditados pelo ego maior dos interesses por especular. A ver os próximos capítulos.