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Entre instaurar a cognição e esquecer a mnemônica: o Brasil na contramão

O desafio da educação hoje é não gerar desperdícios no capital humano

Tenho usado bastante este espaço da coluna para difundir, de modo insistente, sobre o inexorável papel da educação, em qualquer que seja o plano de desenvolvimento que se conceba, com o foco na sustentabilidade. Também tenho-me manifestado, de modo convergente, com as ideias defendidas por Eduardo Giannetti sobre a prioridade da educação, enquanto elemento vital para o dinamismo econômico necessário para o país. De fato, Giannetti é um economista diferenciado,  pois a solidez da sua formação e do seu conhecimemto filosóficos, credencia-lhe para tratar a humanização das relações econômicas como primordial para o vislumbre daquele desenvolvimento. Nessa percepção, estou plenamente afinado, razão pela qual me inspiro nas suas ideias.

Minha firmeza em reconhecer esse papel que ainda cabe à educação no Brasil, está presente em cada fundamento que impede com que nossa economia avance. Acontece que nosso modelo não assume sequer a mínima das relevâncias que lhe cabe.  Apesar do esforço pela universalização do ensino fundamental, promovido no início dos anos 90, o fato é que nosso ensino não evoluiu. Isso tem contribuído - e muito - para evidenciar este estágio atual e grotesco de retrocesso civilizatório. 

Meamo que meu entendimento particular reforce que o investimento público já seja algo respeitável (mesmo que haja quem julgue que poderia ser ainda mais, como enfatiza o próprio Giannetti), é fato que entregarmos como resultados bem menos que outros países com padrão de gastos semelhante. É exatamente neste ponto do insucesso do modelo, que trago à tona dois aspectos importantes, que dão substância às  teses precisas de Giannetti. O primeiro, ele tratou como um "ritualismo" inadequado e ineficaz. O segundo, ele chamou de "inflação de credenciais sem lastro".

Para este primeiro problema, costumo vê-lo como um processo equivocado, ou melhor, uma falha sistêmica. Ao longo do tempo, é algo perceptível que diversas pessoas até que completaram seus  ciclos educacionais, mas muitos não conquistaram as habilidades e os conhecimentos dessas etapas de formação. Acontece que a maneira de ensinar se pauta numa repetitiva e ineficaz aposta na "mnemônica ", um inexplicável ritual que faz o processo de ensino se distanciar de métodos mais frutíferos. Investir na cognição é bem mais importante que guardar a informação. Nesse sentido, é necessário se exercitar a sinapse. Afinal, por errada que possa ser uma resposta que foi mal "arquivada", o importante é poder compreender o contexto, formar opinião, identificar problemas e sugerir soluções. Enfim, é urgente se instaurar o sentido cognitivo e abandonar a memorização. Fora disso, é seguir na contramão do ensino.

Diante da insistência de tal erro no processo de ensino, percebe-se que esse e outros problemas associados só contribuem para a ineficácia dos resultados. Assim, a educação brasileira tem gerado uma "massa de despreparados", totalmente dessintonizados com a realidade da qualificação profissional. Tudo isso se dá com o mau recheio do que provocou a pandemia, além das falhas governamentais, entre cortes orçamentários, desvios de recursos e o retrocesso do "homeschooling". O desafio agora é não gerar mais estoques de capital humano despreparado.

A ciência econômica não é exata, mas costuma ser implacável. Na atualidade, se não houver compromisso com a humanização a resposta da economia será drástica. Desenvolver a capacidade humana é solução inadiável para o país, sem medo dê transformar em obsessão uma política educacional vigorosa. Sem acumular esse estoque diferenciado de capital a economia tenderá a não girar como a sociedade almeja.

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