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Entre o "ócio criativo" de Masi e minha intuitiva "Teoria da Energia Estéril"

Domenico de Masi é um sociólogo e professor italiano que se tornou famoso com a introdução do conceito do "ócio criativo" nas suas análises. De fato, para Masi, numa sociedade moderna que se pauta por mais liberdade, longevidade e tantas possibilidades, os rumos poderão se traduzir em conquistas que vão além do trabalho, puro e simples. O ócio, desde que  exercido de modo criativo, pode ser capaz de agregar valor, de sorte que a transformação gerada pelo desafio desse ofício revela o alcance da plenitude humana numa vida em sociedade.

 

Como toda teoria ou enunciado científico, há a legitimidade de quem se pronuncie como concordantes ou não. O fato é que Masi tem lá seus inúmeros admiradores e a ideia do "ócio criativo" merece não só o seu devido respeito acadêmico como a sua validade empírica. Neste particular, reforço ainda mais essa tese, justo por razões atualíssimas. Afinal, diante da promoção escrachada de tantos adeptos dos "instintos primitivos", que fazem da política e da economia ambientes propícios a uma intentona autoritária, parece-me racional buscar no ócio os catalisadores de uma revisão desenvolvimentista tão necessária para nosso país.

 

Nessa perspectiva, de um modo totalmente despretensioso, faço aqui o ensaio dos primeiros passos de uma mera intuição, para a qual me arrisco ao chamá-la de "teoria da energia estéril". Sem arrodeios, trata-se do tempo desperdiçado com proposições desconexas, que ratificam um arco de rejeição que vai do rigor científico ao exercício empírico. 

 

Criou-se, então, o "legado do negado", traduzido pelo espirito assustador de um negacionismo renitente. Não obstante o espetáculo de horrores consagrado pela ignorância dessa ideologia, vista em cada pormenor de uma crise sanitária sem precedentes, percebe-se também que a economia e a política têm padecido do mesmíssimo mal. Ou seja, muita energia tem sido desperdiçada em torno de temas e propostas sem resultados previsíveis, estéreis. De fato, quando não estão superadas pela falta de tempo no uso, não trazem e nem representam qualquer compromisso revisionista, no sentido de olhar as possibilidades de um futuro construído para um crescimento sustentável, que envolva mais liberdade de iniciativa, respeito à democracia e justiça distributiva.

 

Exemplos são fartos, até mesmo do caldo que ainda se extrai dos desmandos do combate à pandemia, que têm lá suas essências ideológicas e políticas com rebatimentos graves sobre a economia. A mais recente está na "dupla personalidade" do senhor ministro da saúde, que no intuito de agradar o chefe e também a sociedade se contradiz a cada fala. Claro que muito pior que ele estão as atitudes que se originam da equipe econômica, no trato inadequado e desencontrado da sua alçada de trabalho, bem como, as verbiagens desatinadas de um comandante político que faz questão de se mostrar prisioneiro da agitação. Nesse cenário, a economia já emite sinais de que sua marcha lenta entrou em ambiente irreversível. Que o digam o nervosismo do mercado diante de cada ameaça à estabilidade institucional e a projeção de piora dos indicadores macroeconômicos para o curto e longo prazos.

 

Consagrada a voracidade de tanta energia estéril, o melhor por fazer é seguir mesmo os conselhos de Masi. Ou seja, a superação desse desperdício nos permite entender que o melhor agora é ignorar toda essa onda emburrecedora e daí mirar na criatividade e na boa perspectiva que o ócio pode ser capaz de proporcionar.

 

Quem sabe assim, no reconhecimento e na separação entre o que explica a teoria da energia estéril e o ócio criativo, haja esse exercício que prepare o país para revisar seu marco civilizatório e daí propor os pilares de um outro modelo de desenvolvimento.

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