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Nem 8, nem 80

Expectativas Nada Globais

Os Riscos de Políticas Protecionistas Mais Rigorosas

Presidente dos EUA, Donald TrumpPresidente dos EUA, Donald Trump - Jim Watson/Pool/AFP

Diante de um mundo perplexo por desatinos tão inusitados, o tema econômico da hora não poderia ser outro: as relações exteriores. De fato, todas as expectativas estão por conta dos cenários que derivam das mudanças de rumo propostas pelo novo governo dos EUA. A renovação do "trumpismo" se configura agora sob novos condicionantes. Entre o acirramento ideológico que se abraça com um conservadorismo sem precedentes e a soberba nacionalista, esse olhar dos EUA na direção do resto do mundo causa muitas preocupações.

Não me cabe aqui uma análise sobre esse conservadorismo anacrônico, que compõe o ressurgimento de ideias, antes afinadas com o padrão das relações sociais de um tempo, supostamente, superado. Assim, mesmo com esse retrocesso à parte, o que vinga por aqui - até como desdobramentos ideológicos consequentes - é a promessa de execução de uma linha de pensamento econômico, que  propõe regras para um  instigante supremacismo americano. Ou seja, para que a renovação do "trumpismo" seja efetiva, na intenção de uma "América melhor e maior para todos americanos", será preciso exercer o poder econômico longe de modelos integradores, de espectro global e distributivista. Nem que essa estratégia protecionista implique em riscos assumidos, enquanto consequências imediatas, nas relações comerciais e políticas monetárias. Que o digam os efeitos preocupantes que poderão afetar os parceiros, com a adoção de tarifas para os importados. E, por extensão, todo um desencadeamento capaz de afetar juros e câmbio, na singularidade de cada patceiro do resto do mundo.

No que tange às relações com o Brasil, trata-se não apenas de quem sempre esteve dentro dos melhores padrões da diplomacia. Vale considerar, também, um parceiro comercial de enorme expressão (hoje no segundo posto), capaz de exercer todo tipo de efeito sobre a dinâmica da nossa complexa economia. O que dizer, por exemplo, de qualquer movimento reativo, de cunho protecionista, que cause impacto sobre as exportações do agronegócio brasileiro? Um risco que, para essa safra promissora de 2025, poderia se traduzir numa expectativa pouco favorável para o desempenho menor que se espera para o PIB deste ano. E, some-se a esse risco protecionista, o que daí se pode derivar como efeito sobre o nível geral dos preços. Concretamente, na forma de inflação, juros altos e/ou câmbio ainda mais desfavoravel. 

Bem, o tabuleiro está posto à mesa. O protagonismo de um novo poder está dado por dois polos poderosos: EUA e China. Mesmo que envolvidos pela grandeza de uma economia ditada pela produção de intangíveis, ambos ainda conflitam na onda dos velhos interesses comerciais. Por mais "insustentáveis" que sejam para as questões ambientais. Portanto, os riscos são variáveis previsíveis dentro do modelo. Cabem aos demais protagonistas saberem encarar o jogo diante da complexidade expressa por esse novo tabuleiro.

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