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Indicadores de demografia e desigualdade social ameaçam algumas economias

Sinais de alerta da evidência da transição demográfica e persistência da desigualdade de renda 

População da China - AFP

Duas situações recentemente reveladas por indicadores socioeconômicos, já tiram o sossego de economias e economistas, neste início de ano. Nada além do previsto, mas servem como tendências consolidadas, capazes de exigirem políticas públicas responsáveis e diferenciadas. China e Brasil são os laboratórios desses experimentos, que aqui os relato, num tratamento generalista.

As informações socioeconômicas mais recentes que vêm da China revelam um novo ciclo de preocupações para o governo. Pelo segundo ano consecutivo, o país consagra uma queda no crescimento populacional. Longe da preocupação dos anos 80, quando o planejamento central impôs uma política austera de controle da natalidade (anos 80), no curto espaço dos últimos cinco anos houve uma inversão de expectativas e procedimentos, no modo de propor e executar uma política pública cabível à outra realidade. Além do efeito pandemia, fatores econômicos de outras grandezas, como o desemprego juvenil, a inserção profissional das mulheres no mercado e o custo de vida, tudo isso tem levado à sociedade chinesa a frear o desejo dos casais de terem filhos. Isso está mais claro ainda nos números associados que remetem os analistas à constatação da queda nas taxas de natalidade e fecundidade. Um contexto que afeta os rumos de uma economia em ritmo de estagnação, por mais que os padrões atuais de crescimento, na base de incríveis 4 a 5% ao ano, tentem segurar a onda.

Apesar de se pensar num paradoxo, quando a gente olha para aquelas iniciativas de política dos anos 80, a verdadeira questão que se impõe agora aos chineses é a mais evidente das consequências da chamada transição demográfica. Refiro-ma ao envelhecimento inevitável da população, com custos de saúde e previdência que caberiam aos jovens, economicamente ativos do mercado de trabalho, gerarem a riqueza necessária para esse custeio. Assim, com a confirmação desses dados recentes, o desafio está posto sobre os ombros da expressiva economia que a China consolidou nos últimos anos.

Antes de tratar dos números que refletem o tema da desigualdade social, algo não menos preocupante pela sua simbiose clássica com a realidade brasileira, não posso omitir a respeito do mesmo desafio da transição demográfica, que também afeta os alicerces da nossa economia. A ordem de grandeza similar, que decorre do envelhecimento da população brasileira, também não é pequena. Até porque nossa etapa nesse conceito de transição demográfica é de um estágio inferior, porque gargalos como educação e saneamento ainda são bem significativos. Por mais que a juventude trabalhadora e empreendedora possa avançar na direção de financiar os modelos que ditem sobre a sustentabilidade dos mais velhos. Afinal, estamos também culturalmente afinados com as teses familiares de controle de natalidade, por conta dos mesmos condicionantes: a inserção profissional das mulheres, as despesas com a educação dos filhos e o custo de vida. Só que por aqui, no cômputo geral, os governos foram displicentes no trato de uma transição demográfica, que parece alcançada. Nem fizemos atrás o dever de combater a imprevidência demográfica, por em prática um modelo educacional sintonizado com o mundo e controlar o crescimento desordenado da urbanização. Haja pressão sobre o SUS e a Previdência. 

Em sintonia com essa preocupação, assusta-me outro contexto social de enorme importância: a resistência das desigualdades de renda. É lamentável que números recentes de uma nota técnica do IBRE/FGV ratifiquem essa "infeliz vocação nacional" de se fazer uma economia girar com tanta incompetência, quando o quesito é fazer uma distribuição da renda de modo mais equilibrado. Neste exercício de cunho acadêmico, observou-se que a renda de 0,01% da população, que compõe o topo da pirâmide (cerca de 15 mil pessoas) cresceu três vezes mais que os rendimentos das parcelas que compõem os mais pobres. Os privilegiados que dão vigor à tal abismo, viram sua riqueza aumentar, entre 2017 e 2022, em 95%. Mesmo que, do outro lado desse abismo, a variação tenha sido de um crescimento de 33%. No entanto, vale dizer que a inflação do período ficou pouco abaixo disso, assim como, constatou-se um aumento na concentração de renda em todos os níveis. Ou seja, o poder aquisitivo dos mais pobres pouco aumentou (mesmo que influenciado pelos programas sociais, que moveram a demanda agregada pelo consumo das famílias), ao mesmo tempo em que, seu padrão de vida se distanciou ainda mais, dos estratos mais ricos. A persistência por se sustentar um modelo com tamanha exclusão, parece-me uma opção que não só representa uma proposta de desenvolvimento equivocada. Pior que isso é perceber a burrice estratégica de querer um mercado seletivo somente para poucos.

Há tempo para se entender a dinâmica da demografia e da desigualdade sobre a economia. Desta, o que se espera é um processo de desenvolvimento com maior inclusão social e qualidade de vida. Em sintonia com melhores performances na educação, na cultura e no meio ambiente. Conforme foi dito pelo Barão de Itararé, "pior que mudar de ideia, é não ter ideias para mudar".

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