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Indústria automotiva: sinais econômicos de derrapagem (Parte 2)

Ilustração: Greg / Editoria de Artes / Folha de Pernambuco

No texto anterior, procurei expressar um certo sentimento saudosista, que em parte explicava a relevância social e econômica da indústria automobilística, em pouco mais de cem anos de atividades no Brasil. Na minha metáfora, pus então o carro na pista. Só que, ao longo do tempo, nem sempre as condições de manutenção foram tão  favoráveis. Seja da pista ou do carro. Claros sinais de derrapagem à vista.

Assim, saio do passado e hoje acesso o caminho para uma análise presente, que tente explicar o fato da Ford tomar a decisão pela "marcha ré", encostar o carro na garagem e depois desfazê-lo. Falar do futuro, sobre continuar ou não com o carro, será algo que deixarei para comentar no próximo texto.

De fato, qualquer análise sobre essa decisão da Ford terá que assimilar algumas razões, todas capazes de promoverem uma interpretação que possa ser consistente, sobretudo, no que concerne aos impactos econômicos, sociais e até políticos. Nesse esforço analítico não só tracei uma rota para seguir, como agrego ao meu caminho uma percepção de que para chegar ao destino, vou precisar mesmo avaliar as condições do carro e da estrada. 

Digo isso porque reúno agora dois argumentos explicativos dessa saída do mercado promovida pela tal montadora. Quando falo das condições do carro, quero me referir às decisões empresariais, nem sempre adequadas à realidade do mercado. Ao destacar as condições da estrada, refiro-me às politicas públicas, direta ou indiretanente atreladas ao setor. Neste caso, dirijo-me ao histórico papel de agente proativo que os Governos têm exercido quando o assunto é a indústria automobilística, nas três esferas.

Sobre o comportamento empresarial há aspectos bem diferenciados por tratar. No bojo da justificativa simplista dos 26% de queda nas vendas em 2020 e sob a perspectiva de só retomar em 2023 o padrão dos negócios que havia conquistado em 2019, ocorreram erros gerenciais que, evidentemente, foram excluídos do "relatório de despedida". A metáfora da "marcha ré" faz todo sentido quando esse comportamento é levado em conta, ao se observar o desempenho da montadora, desde o episódio que delimitou o aguçamento da "guerra fiscal" há pouco mais de 20 anos. Por trás de uma quebra de contrato naquela substituição do RS pela BA, evidenciaram-se erros e omissões. Do "comodismo" das proteções públicas à  ausência de um plano estratégico que considerasse a premissa básica de valorizar a visão de futuro.

A mera justificativa empresarial pela questão da conjuntura econômica seria cabível às demais montadoras, que acabaram de reafirmar seus planos de investirem R$ 65 bilhões, nos próximos 5 anos. Isso com o dado massacrante do "custo Brasil", por um lado. E, por outro, com a sustentação de uma política de incentivos creditícios e fiscais. Neste particular, na órbita do governo federal, relembro que o beneficio foi prorrogado pelo Governo Temer, com validade até  2025. Assim, historicamente, considerados apenas os incentivos fiscais variados e disponibilizados pelas três esferas, essa estratégia tem revelado que os créditos tributários têm gerado valores maiores que os aportes projetados para investimentos. Nada mal.

Entretanto, há  notórias questões estruturais, que vão bem mais além, algo não relevado de modo explícito na decisão da Ford. Essa referência passaria por planos de reestruturação que não foram priorizados, dados os veiculos e estruturas industriais das três fábricas brasileiras. 

Sobre as questões de políticas públicas, que também dão sentido à  análise prospectiva, tratarei na próxima coluna.

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